Para Fulcanelli, a alquimia seria o elo com as civilizações desaparecidas desde há milênios e ignoradas pelos arqueólogos. Evidentemente, nenhum arqueólogo considerado honesto e nenhum historiador de igual reputação admitirão a existência, no passado, de civilizações que tenham possuído uma ciência e técnicas superiores às nossas.
Mas uma ciência e técnicas avançadas simplificam ao máximo a aparelhagem, e talvez os vestígios estejam sob os nossos olhos sem que sejamos capazes de os ver como tais. Nenhum arqueólogo e nenhum historiador honesto, que não tenham recebido uma formação científica em alto grau, poderão efetuar pesquisas susceptíveis de nos fornecer a esse respeito qualquer esclarecimento.
A separação das disciplinas, que foi uma necessidade do fabuloso progresso contemporâneo, talvez nos dissimule qualquer coisa de fabuloso no passado. Sabe-se que foi um engenheiro alemão, encarregado da construção dos esgotos de Bagdá, que descobriu na amálgama de objetos do museu local, sob a vaga etiqueta de objetos de culto, pilhas elétricas fabricadas dez séculos antes de Volta, durante a dinastia dos Sassânidas. Enquanto a arqueologia apenas for praticada por arqueólogos, não saberemos se a noite dos tempos era obscura ou luminosa.
Jean-Frédéric Schweitzer, dito Helvétius, até então violento adversário da alquimia, conta que na manhã de 27 de dezembro de 1666 se apresentou em sua casa um estrangeiro. Era um homem de aparência honesta e séria, e de expressão autoritária, vestido com um simples capote, como um menonita.
Depois de perguntar a Helvétius se acreditava na pedra filosofal (ao que o famoso médico respondeu negativamente), o estrangeiro abriu uma pequena caixa de marfim que continha três pedaços de uma substância semelhante ao vidro ou à opala. O seu proprietário declarou tratar-se da famosa pedra, e que com uma tão mínima quantidade podia produzir 20 toneladas de ouro. Helvétius pegou num dos fragmentos e, depois de agradecer ao visitante a sua amabilidade, pediu-lhe que lhe desse um bocado.
O alquimista recusou num tom brusco, acrescentando com mais cortesia que, mesmo a troco de toda a fortuna de Helvétius, não se poderia separar da menor parcela desse mineral, por uma razão que não lhe era permitido divulgar. Instado para que desse uma prova das suas palavras, realizando uma transmutação, o estrangeiro respondeu que voltaria três semanas mais tarde e mostraria a Helvétius uma coisa susceptível de assombrá-lo.
Voltou pontualmente no dia marcado, mas recusou executar a operação, afirmando que lhe era proibido revelar o segredo. Condescendeu, no entanto, em dar a Helvétius um pequeno fragmento da pedra, não maior que um grão de mostarda. E como o médico emitisse a dúvida de que uma tão ínfima quantidade pudesse produzir o menor efeito, o alquimista partiu o corpúsculo em dois, deitou uma metade fora e entregou-lhe a outra, dizendo: aqui está justamente aquilo de que precisa.
O nosso sábio viu-se então obrigado a confessar que durante a primeira visita do estrangeiro conseguira apoderar-se de algumas partículas da pedra, as quais tinham transformado o chumbo, não em ouro, mas em vidro. Devia ter protegido a pedra com cera amarela, respondeu o alquimista, isso ajudá-la-ia a penetrar o chumbo e a transformá-lo em ouro. O homem prometeu voltar de novo no dia seguinte de manhã, às 9 horas, e realizar o milagre – mas não apareceu, e no dia a seguir também não.
Posto isso, a mulher de Helvétius persuadiu-o a tentar ele próprio a transmutação: Helvétius procedeu de acordo com as instruções do estrangeiro. Derreteu três dracmas de chumbo, envolveu a pedra em cera e deixou-a cair no metal líquido. E este transformou-se em ouro!
Levamo-lo imediatamente ao ourives, que declarou tratar-se do ouro mais fino que jamais vira, e propôs pagá-lo a 50 florins a onça. Helvétius, ao concluir a sua narrativa, disse-nos que a barra de ouro continuava na sua mão, prova tangível da transmutação.
Possam os Santos Anjos do Senhor velar por ele (o alquimista anônimo), bem como sobre um manancial de bênçãos para a cristandade.
Tal é a nossa prece constante, por ele e por nós. A novidade espalhou-se como um rastilho de pólvora. Spinoza, que não podemos incluir no número dos ingênuos, quis saber a verdade da história. Fez uma visita ao ourives que avaliara o ouro.
O relatório foi mais do que favorável: durante a fusão, a prata incorporada à mistura transformara-se igualmente em ouro. O ourives, Brechtel, era moedeiro do Duque de Orange.
Sabia sem dúvida do seu ofício. Parece difícil acreditar que ele possa ter sido vítima de um subterfúgio, ou que tenha pretendido enganar Spinoza.
Spinoza dirigiu-se então à casa de Helvétius, que lhe mostrou o ouro e o crisol que servira para a operação. Aderiam ainda ao interior do recipiente restos do precioso metal; como os outros, e Spinoza ficou convencido de que a transmutação se operara realmente…
(Trecho extraído da obra O Despertar dos Mágicos, de Pawels e Bergier)
A grande transformação não é se tranformar em ser, e sim em não ser, eis a grande alquimia, a grande trans-substancialização.
Saudações
Do mesmo significado,amplamente astuto,se faz indagações esporádicas e sagaz,na labuta intransigente da amplitude singela do saber.
Por ventura,se deixa levar pela atitude amarga,da audácia e exploração minuscula,da ambiciosa tentativa involuível do ser absoluto.
Pagam para ver,e só depois crer.
Assim seja