Sufis ensinam que Deus criou o homem com a música

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O sufi Hazrat Inayat Khan (1882-1927) narra: “Certo dia, Akbar, o grande imperador dos mongóis, disse ao músico da corte, o famoso Tansen: ‘Diga-me, ó grande músico, quem foi o seu mestre?’ A resposta: ‘Majestade, meu mestre é um músico muito importante, aliás, mais do que isso. Não posso chamá-lo de músico, tenho de chamá-lo por obrigação  de música!’ O imperador insistiu: ‘A propósito desse seu mestre, posso ouvi-lo cantar?’ Tansen respondeu: ‘Talvez, posso tentar. Porém, não pense Vossa Majestade que vai poder chamá-lo para vir à corte.’

O imperador então quis saber: ‘Afinal, posso ir até onde ele está?’ Ao que o músico respondeu: ‘Ele pode fica com o orgulho ferido ao imaginar que terá de cantar diante de um rei.’ Akhbar observou: ‘Mas eu poderia ir lá como seu servo.’ Tansen ponderou: ‘ Sim, essa é uma possibilidade, uma forma de esperança.’

Dito isto, ambos escalaram o Himalaia, até as mais elevadas montanhas onde o sábio erigira seu templo de música na abertura de uma caverna, em meio à natureza, vivendo em estreita harmonia com o infinito. O músico da corte havia viajado a cavalo e Akhbar andara a pé. Ao chegar na montanha, o sábio percebeu que o imperador havia-se humilhado para poder ouvir sua música, e mostrou-se disposto a cantar.

E sua canção era extraordinária. Parecia que  as árvores e plantas vibravam todas. Era a canção do universo. A impressão que causou em Tansen e Akbar foi muito profunda, mais do que podiam suportar. E, em consequência disso, ambos entraram num estado de paz e transfiguração. E, enquanto se achavam nesse estado, o mestre saiu da caverna.

Quando abriram os olhos, ele já não se encontrava mais à sua frente. O imperador tornou a falar: ‘Mas que fenômeno estranho. Para onde ele foi?’ Tansen respondeu: ‘ Nunca mais o verá nesta caverna, pois assim que um homem chega a sentir o sabor deste fenômeno ele o procurará sempre, mesmo que isto custe a sua própria vida, pois essa experiência é maior do que qualquer coisa na vida.’

“Após terem voltado para a sua terra, o imperador, um dia, perguntou ao músico: ‘Qual era a raga que o mestre cantou?’ Tansen disse o nome da raga e cantou-a para o imperador. Este, porém, não se deu por satisfeito, e observou: ‘Sim, é a mesma música, mas ela não tem o mesmo espírito. Por que acontece algo assim?’ Tansen replicou: ‘A razão é esta: eu canto para Vossa Majestade, imperador deste país, mas o meu mestre canta para Deus. Essa é a diferença.’”

Hafiz e Hazrat Inayat Khan: Deus Criou o Mundo a Partir do Som

Hafiz, um dos grandes poetas da antiga Pérsia, conta a seguinte lenda: “Deus fez uma estátua de barro à sua imagem e quis que essa estátua possuísse alma. Mas a alma recusou-se a ser aprisionada, pois é de sua natureza ser livre e voar à vontade. A alma não quer estar presa, nem admite que lhe imponham limites. O corpo é uma prisão e a alma recusou-se a adentrá-lo. Então Deus pediu aos anjos que tocassem sua música. E, à medida que os anjos tocavam, a alma ficou extasiada. Para poder sentir melhor a música e ouvi-la de perto a alma entrou no corpo.” Hafiz disse: “As pessoas dizem que ao ouvir aquele som, a alma entrou no corpo; a verdade, porém é que a própria alma era o som”.

Ao que o sufi Hazrat Inayat Khan comentou: “Essa é uma bela lenda, no entanto ainda maior é o seu mistério, o seu significado. A interpretação dessa lenda nos explica duas grandes leis. Uma delas é que a natureza da alma é ser livre e, para a alma, a tragédia da vida consiste na ausência dessa liberdade que pertence à sua natureza original. O outro significado dessa lenda nos mostra que a única razão pela qual a alma entrou no corpo de barro ou matéria inanimada foi experimentar e ouvir a música da vida”.

Sempre nos deparamos com o fato de que a linguagem “sabe” mais do que aqueles que a usam. As duas primeiras frases da lenda do sábio poeta Hafiz dizem: “Deus fez uma estátua de barro. ele formou o barro à sua semelhança”.

O escultor modela o barro e temos uma estátua. O músico forma a matéria e temos a música. Deus forma o barro e temos uma estátua. O músico forma a matéria e temos a música. Deus forma o barro e surge o mundo. Em cada momento o barro é a matéria-prima, o elemento-primevo, a matéria-primeva daquilo que denominamos criação: a tensão-primeva. No princípio, era o barro. O tom como Logos. Já falamos disso: o “Faça-se” contido no início da história da criação judaico-cristã era, antes de tudo, tom e som.

Os sufis, místicos do islamismo, sabem muito bem: Deus criou o mundo a partir do som!

2 COMENTÁRIOS

  1. … ” Nascí em Pé de Serra, minha infância via esse mundo que citamos. O Céu era o sótum das portas do infinito… o sol era a bola de fogo que dava fogo ao meu fogo de mim encandeiar e eu caía ns chão que era tão perto de mim… e a núsica nas palhas das palmeiras da serra do vovô mim chamavam… mas, o cajueiro havia saguins e eu temia os macaquinhos… e só ía ouvir a música do vento nas palhas da palmeira quando Papai chegava e subis pra serra à pegar ‘lenha’ madeeira seca para cozinhar a comida da casa grande que era senzala, lá em baixo, havia 10,12 homens que ao meio dia almoçavam juntos, todos nós. Eu era tão cuidadoso à ouvir aquela música que assoviava no no tom trazendo som aos meus ouvidos que encantavam-se, e hoje, eu morro de saudades. kkk Havia um Arcanjo talhado em uma pedra, cabelos longos, rosto afilado,mãos por sobre as madeiras… eu m’encantava… e hoje eu creio que aqueka ingenuidade, mim formou um homem cheio de saudades,mas,sobretudo,espirituoso,e ainda desamostumado com a cidade grande,apesar de estar nessa peleja. Eu ouço a música ainda, nas palahas das palmeiras. abss…

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