Rumo a Deus pelo coração

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O sufismo é a corrente mística e contemplativa, que segundo algumas fontes tem suas origens na religião islâmica, porém esta não é uma informação de todo verdadeira. Os praticantes são conhecidos como sufis ou sufistas e procuram estabelecer uma relação íntima com Deus, utilizando de vários ritos e técnicas para tal.

“Há, no Ocidente, muita confusão, muitos mal-entendidos acerca da Tradição Sufi de ensinamento e do desenvolvimento interior do indivíduo. A Tradição Sufi é, como tem sido sempre, uma ciência exata, não se encaixando dentro da série de “ismos” que marcam muitas filosofias populares.”

O pensamento sufi se fortaleceu no Médio Oriente no século 7º e se encontra hoje por todo o mundo, sofrendo perseguição em alguns lugares como Ásia, Oriente Médio e África. Os místicos sufis procuram ensinar, escrever e criar versos para devolver ao homem o Conhecimento Esotérico (Gnose) perdido pelas religiões estabelecidas. Em sua crença, Deus é amoroso, e a comunhão profunda com Ele pode ser obtida por qualquer pessoa, independentemente de suas crenças.
Alguns nomes de Mestres da Tradição Sufi: Al-Ghazali, Hafiz, Jami, Saadi, Salman i-Farsi, Omar Khayyam, Rumi, Al-Beirun.

Rumi

Jalal ud-Din Rumi nasceu em 1207, em Balkh, no Khorasan, atual Afeganistão. Em 1244 conhece o velho místico Shams, e com ele trava uma amizade profunda, interrompida apenas pela morte de Shams, ao qual Rumi dedicou muitos poemas. Rumi faleceu em 1273 e fazia parte da tradição dos Dervixes Rodopiantes, que compreende os místicos sufis que utilizam a dança e o giro como um meio para atingir êxtase espiritual. Rumi ficou conhecido como um grande poeta, através de seus livros: Masnavi, Fihi-Ma-Fihi e Divan.

 

 

Poemas de Rumi

 

O Amor partiu meu leve coração
e o sol vem clarear minhas ruínas.

Ouvi belas palavras do Sultão.
Caí por terra triste, acabrunhado.

Acercou-se de mim, vi o seu rosto.
“Do rosto eu não sabia mais do que o véu.”

Se a luz do véu abrasa esse universo,
o que dizer do fogo de teu rosto?

O Amor veio e partiu. Eu o segui.
Voltou-se, como águia, e devorou-me.

Perdi-me no tempo e no espaço.
Perdi-me nos mares do verbo.

O gosto deste vinho,
conhece quem sofreu.

Os profetas bebem tormentos.

E as águas não temem o fogo.

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Quero fugir a cem léguas da razão,
Quero da presença do bem e do mal me liberar.
Detrás do véu existe tanta beleza: lá está meu Ser.
Quero me enamorar de mim mesmo, ó vós, que não sabeis!

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Eu soube enfim que o amor está ligado a mim.
E eu agarro esta cabeleira de mil tranças.
Embora ontem à noite eu estivesse bêbado da taça,
Hoje, eu sou tal, que a taça se embebeda de mim.

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Ele chegou… Chegou aquele que nunca partiu;
Esta água nunca faltou a este riacho
Ele é a substância do almíscar e nós o seu perfume,
Alguma vez se viu o almíscar separado de seu cheiro?

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Se busco meu coração, o encontro em teu quintal,
Se busco minha alma, não a vejo a não ser nos cachos de teu cabelo.
Se bebo água, quando estou sedento
Vejo na água o reflexo do teu rosto.

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Sou medido, ao medir teu amor.
Sou levado, ao levar teu amor.
Não posso comer de dia nem dormir de noite.
Para ser teu amigo
Tornei-me meu próprio inimigo.

 

 

HAFIZ

Al-Din Muhammad Hafiz nasceu em Chiraz, em 1325, foi um poeta lírico persa, professor de exegese do Alcorão e adepto do sufismo. Exímio no gazel (uma forma de ode), foi, durante muito tempo, poeta da corte, mas caiu em desgraça em 1368. Sua obra versa sobre o amor à natureza, aos prazeres do vinho e do amor, as imagens incomuns e as exatas descrições da vida cotidiana da época. Sua obra intitulada Diwan, com mais de 500 poemas líricos (gazéis). Morreu em Chiraz no ano de 1390.

Poemas de Hafiz

Um dia, o sol admitiu:
Sou apenas uma sombra,
quisera poder mostrar-te a infinita incandescência
que lançou minha imagem brilhante.
Quisera poder mostrar-te, quando você se sentir só ou na escuridão,
a surpreendente luz do teu próprio Ser.

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O que poderia Hafiz proferir sobre aquele dia
Quando o sol concebeu um homem,
Deu à luz a si próprio como a realidade e a verdade?
Que justiça poderia todo discurso na criação jamais dizer
A respeito daquela esplendorosa manhã

Quando o eterno Um maravilhoso Deixou seu rosto
Reaparecer na forma através da graça?
Há algo que eu vi no interior de Maomé,
Essa é a raiz luminosa de toda a existência,
Independente da noviça dança do tempo

Através de uma única corda do alaúde do infinito.
O que pode até mesmo o amor de Hafiz expressar
Pelo antigo doce homem

Que sempre produz compaixão e ludicidade divina?
O que pode o vórtice do meu humor, perspicácia e gratidão sublimes,
jamais dizer Sobre o pai dos perfeitos,
Quando eles próprios, podem transformá-lo em Deus?

Eu trago presentes hoje dos reis dos peixes, animais, aves, e anjos.
Eu trago presentes hoje dos rios, mares, campos, estrelas,
E de cada alma – que para sempre será!
Amado deixe-nos conhecer O que a luz viu e disse:

Quando te descobriu pela primeira vez, e em seguida, saltou e desfaleceu
Em tal risada maravilhosa Que a luz tornou-se Este solo de terra E este céu.
Ó, Eterno, neste dia sagrado sempre presente esqueça sua divina reserva
– Escancare as portas da Taberna.
Dê aos seus sedentos velhacos leais
Uma bebida de sua sagrada vinha,

Livre-nos de nós mesmos, um pouco
Com abençoado conhecimento consumidor do seu Ser Omnipresente.
Nós somos suas noivas ansiosas, por que esconder isso?

Somos mariposas dervixes cantando.
Nossas almas sabem Daquele fogo imaculado que você mantém
Que pertence a nós!

Mesmo a morte não terá poder agora
Para calar Seu nome de bater loucamente em nossos corações.
Viajante, agora não é hora se sentar-se quieto
Pois nada, além de um grande clamor de alegria

E a música pode fazer qualquer sentido
Hoje!

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Uma destas noites, um sábio me falou: “É preciso conheceres o segredo daquele que nos vende o vinho”.
E ainda: “Não leves nada a sério. O mundo carrega de enormes fardos aqueles que dobram a cerviz”.
Depois, estendeu-me uma taça onde o esplendor do céu se refletia tão vivamente que Zuhra se pôs a dançar:
“Filho, segue o meu conselho; não te inquietes com as noites deste mundo. Guarda as minhas palavras: elas são mais raras do que as pérolas”.

“Aceita a vida como aceitas essa taça, de sorriso nos lábios, ainda que o coração esteja a sangrar. Não gemas como um alaúde; esconde as tuas chagas.”
“Até o dia em que passares por trás do véu, nada compreenderás. Não podem ouvidos humanos ouvir a palavra do anjo.”
“Na casa do amor, não te envaideças das tuas perguntas, nem da resposta.”
Vinho, ó Saki, mais vinho: as loucuras de Hafiz foram compreendidas pelo Senhor da alegria, Aquele que perdoa, Aquele que esquece…

Um viajante encontrou a casa de um beduíno perdida no meio do deserto. Este não tinha mais do que um pouco de leite de cabra, que não saciou a fome do hóspede.
Nisto, o beduíno disse à esposa: “Mata a cabra”.
“Marido, é tudo o que temos, sem ela morreremos de fome.”
“Antes morrer de fome que deixar o nosso hóspede faminto. Mata a cabra, mulher!”
A cabra foi morta, cozinhada e servida.
Na hora da partida, o hóspede disse ao seu criado: “Dá ao nosso anfitrião tudo o que contigo trazes”.
“Mas, Senhor, tamanha riqueza por uma cabra apenas?”, questionou o servo.
“É verdade. No entanto, este bom homem deu-nos tudo que possuía e nós pouco lhe estamos a dar. A sua generosidade é muito superior à nossa.”

6 COMENTÁRIOS

  1. O médio Oriente, e o extremo Oriente, sempre foram cobertos de mistérios, Já tinha lido breves palavras do Mestre Samael sobre os Sufis, porém, nunca com tanta beleza poética sem igual. É claro, que todos os versos, falam da divina mãe. Revela o mestre certa vez, que Éliphas Levy, se enamorara de sua mãe divina, tamanha beleza e majestade encontrara nela. Mulher nenhuma no mundo, seria capaz de iguala-la em beleza e formosura, amor e dedicação ao seu filho, ele próprio. Benditas sejas, Ísis, shakt, Maria…

  2. Esta última história, a da cabra, lembra-nos a parábola de Cristo em que a mulher dá todo o seu dinheiro, não me lembro muito bem, mas é por aí. O Sufismo tem influência cristã?

  3. Li pela primeira vez poema de Hafiz pela revista Corréio da Unesco, me identifiquei de imediato. Não se pode negar a influência da sabedoria semita em seus poemas – A começãr pelos Provérbios de Salomão, passando por Maimônides e Gibran Kalil – Culminando com os ensinamentos do supremo Mestre dos Mestres Jesus – contidos nos Evangelhos.

  4. Desculpe! Gibran Kalil foi bem posterior Hafiz , viveu no Sec. XX. Inverti, movido pela ansiedade, provavelmente Gibran tenha sido influênciado pelos poemas de Hafiz.

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