Os mistérios egípcios II

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Salve, ó bendita Deusa Atenea-Neith! Quão grandes são tuas obras e maravilhas! Bem sabem os Deuses e os sábios que tu és a divina Clítone da submersa Atlântida.

Está escrito com caracteres de fogo no grande livro da vida que tu, ó Deusa, soubeste selecionar inteligentemente o melhor da semente de Vulcano para fundar a augusta cidade de Atenas. Ó Neith! Estabeleceste a Saís no delta do Nilo.

O país ensolarado de Kem inclina-se, reverente, diante de ti. Salve… Salve… Salve…

Ainda ressoam, no fundo dos séculos, aquelas frases do sacerdote de Saís: “Ó Sólon, Sólon, vós gregos não sois senão meninos! Não há na Grécia um único ancião! Vós sois todos jovens de alma, porquanto não entesourais qualquer opinião verdadeiramente antiga e vinda de arcaica tradição. Não possuis nenhum conhecimento branqueado pelo tempo.

Eis aqui por quê: Ao longo dos séculos as destruições de homens e povos inteiros se sucederam em grande número.

As menores por mil causas diversas e as maiores pelo fogo e pela água.’Assim, há entre vós a velha tradição de que outrora, Faetonte, o filho do sol, ao tentar dirigir o carro de seu pai, incendiara a terra e que ferido pelo raio, ele próprio pereceu.

Semelhante relato é de caráter fabuloso. A verdade que tamanha fábula oculta sob seu símbolo é a de que os corpos celestes que se movem em suas órbitas sofrem perturbações, que determinam no tempo uma destruição periódica das coisas terrestres por um grande fogo.

Em tais catástrofes, os que habitam nas montanhas, paragens elevadas e áridas perecem mais depressa que os moradores da orla marítima e dos rios.

A nós, o Nilo, a quem de tantas maneiras (levemos a vida, salvou-nos de tamanho desastre, quando os Deuses purificaram a terra submergindo-a. Sim, nem todos os vaqueiros e pastores pereceram sobre as montanhas.

Habitantes de vossas cidades foram pouco a pouco levados até o mar, seguindo a corrente dos rios.

Sem dúvida, em nosso país, nem agora e nem em outra época, as chuvas fecundaram nossas campinas, porém a natureza dispôs que a água nos viesse da própria terra, pelo rio.

Esta é a causa porque o nosso país pode conservar as tradições mais antigas. Nem os calores extremados, nem as chuvas excessivas, o despojou de seus habitantes.

Além do mais, se bem que a raça humana possa aumentar ou diminuir em número de indivíduos, jamais chega a desaparecer por completo da face da terra.

Deste modo e por esta razão, tudo quanto se fez de formoso, grande ou memorável, sob qualquer aspecto, seja em vosso país, seja no nosso ou em outro, está escrito há muitos séculos e conservado em nossos templos.

Todavia, entre vós e demais povos, o uso da escrita e do que é necessário a um estado civilizado não data de uma época muito recente.

Acontece que, subitamente, com determinados intervalos, vêm a cair sobre vós como uma peste cruel torrentes que se precipitam do céu e não deixam sobreviver senão homens estranhos às letras e às musas, de sorte que recomeçais, por assim dizer, vossa infância e ignorais todo acontecimento de vosso país ou do nosso que remonta ao tempo antigo.

Assim, Sólon, todos esses detalhes genealógicos que nos destes relativos à vossa pátria… Parecem-se a meros contos infantis.

Desde logo vós nos falais de um dilúvio, quando se verificaram muitos outros anteriormente. Além do mais, ignorais que em vosso país existiu a raça de homens mais excelente e perfeita. Dela tu e toda a nação são descendentes, depois que ela pereceu com exceção de um pequeno número.

Vós não sabeis porque os primeiros descendentes daquela raça morreram sem transmitir nada por escrito durante muitas gerações. Antigamente.

Sólon, antes da última grande destruição pelas águas, esta mesma república de Atenas já existia. Era admirável na guerra e se distinguia em tudo pela prudência e sabedoria de suas leis, bem como por suas generosas ações. Contava, por fim, com as instituições mais formosas que jamais se ouviu falar sob os céus.”

Sólon acrescenta que ficou pasmado diante de semelhante relato e que cheio de infinita curiosidade rogou aos sacerdotes egípcios que ampliassem seus relatos”. Eu estive reencarnado na terra sagrada dos faraós durante a dinastia do Faraó Kefrén.

Conheci a fundo os antigos Mistérios do Egito secreto e em verdade digo a todos que jamais consegui esquecê-los.

Nestes precisos instantes, vêm a minha memória acontecimentos maravilhosos. Uma tarde qualquer, não importa qual, caminhando lentamente pelas areias do deserto, sob os ardentes raios do sol tropical, atravessei silencioso, como um sonâmbulo, uma rua misteriosa de esfinges milenares, diante do olhar exótico de uma tribo nômade que me observava desde suas tendas.

À sombra veneranda de uma antiquíssima pirâmide, tive de me acercar um momento para descansar um pouco e para arrumar, pacientemente, as correias de uma das minhas sandálias.

Depois, diligente, busquei com ânsia a augusta entrada, pois desejava voltar ao Caminho Reto. O guardião, como sempre, estava no umbral do mistério. Impossível esquecer aquela figura hierática de rosto de bronze e pômulos salientes.

Esse homem era um colosso… Em sua direita, empunhada com heroísmo, estava a terrível espada. Seu porte era formidável e não há dúvida que usava com pleno direito o mandil maçônico (avental).

O interrogatório foi bastante severo:

“Quem és?”
“Sou um suplicante que vem cego em busca de luz”.
“O que desejas?”
“Luz – respondi.”

(Seria muito longo transcrever no espaço deste capítulo todo o exame verbal).

Depois, de uma maneira que eu qualifico de violenta, despojou-me de todo objeto metálico, inclusive das sandálias e da túnica. O mais interessante foi aquele instante em que o hercúleo homem me segurou pela mão para conduzir-me ao Santuário.

Os instantes em que a pesada porta girou sobre seus gonzos de aço, produzindo esse DÓ misterioso do velho Egito, foram inesquecíveis.

O que aconteceu depois, o encontro macabro com o “Irmão Terrível”, as provas do Fogo, Ar, Água e Terra, pode ser encontrado por qualquer Iluminado nas memórias da natureza.

Na prova do fogo, tive de me controlar o melhor possível, quando atravessei um salão em chamas. O piso estava cheio de vigas de aço esquentadas ao vermelho vivo.

Muito estreito era o espaço entre aqueles trilhos de ferro ardentes, havia somente lugar para pôr os pés. Muitos foram os aspirantes que pereceram neste esforço, naqueles tempos.

Ainda recordo com horror aquela argola de aço encravada na rocha. Em baixo, somente se via o tenebroso e horripilante precipício. Sem dúvida, saí vitorioso na prova do ar. Triunfei onde outros pereceram.

Passaram-se muitos séculos e ainda não consegui esquecer, apesar da poeira de tantos anos, aqueles crocodilos sagrados do lago. Se não fossem as conjurações mágicas, teria sido devorado por esses répteis, aliás como aconteceu a muitos aspirantes.

Inumeráveis infelizes foram triturados e quebrados pelas rochas na prova da terra. Eu triunfei. Vi com indiferença duas enormes pedras que ameaçavam minha existência, fechando-se em torno de mim vira reduzirem-me a poeira cósmica.

Certamente, não sou mais do que um miserável verme do lodo da terra, porém saí vitorioso.

Assim, foi como retornei à senda da revolução da consciência depois de ter sofrido muito. Fui recebido no Colégio Iniciático. Fui vestido solenemente com a túnica de linho branco dos sacerdotes de Ísis e no meu peito colocaram a cruz Tau egípcia.

“Salve, ó Rá! Semelhante a Tum (o Pai) te levantas por cima do horizonte e semelhante a Hórus (o Íntimo) caminhas no céu.

Tua formosura regozija meus olhos e teus raios (solares) iluminam meu corpo na terra.

Quando navegas em tua barca celeste (o astro-rei), a paz se estende pelos vastos céus.

Eis aqui que o vento incha as velas e alegra teu coração; com marcha rápida atravessas o céu.

Teus inimigos são derrubados e a paz reina em torno de ti. Os Gênios Planetários, percorrendo suas órbitas, cantam tua glória.

E quando desces no horizonte, atrás das montanhas do oeste, os Gênios das estrelas fixas se prosternam diante de ti e te adoram”. (Porque tu és o Logos Solar.)

Grande é tua formosura no alvorecer e na tarde, ó, tu, Senhor da vida e da ordem dos mundos.

Glória a ti, ó Rá, quando te levantas no horizonte e quando pela tarde, semelhante a Tum (o Pai), te deitas.

Pois, na verdade, teus raios (solares) são formosos, quando no alto da abóbada celeste te mostras em todo teu resplendor.

Ali, é onde habita Nut (a Divina Mãe Kundalini) que te trouxe ao mundo.

Eis aqui que és coroado Rei dos Deuses.

A Deusa do Oceano Celeste, Nut, tua mãe, se prosterna em adoração diante de ti.

A ordem, o equilíbrio dos mundos de ti emanam.

Desde a manhã, quando partes, até a tarde, à chegada, em rápidos lances percorres o céu. (És o Cristo -Sol.)

Teu coração se alegra e o lago celeste fica pacificado. Derrubado é o demônio (o Ego, o Eu Pluralizado). Seus membros são cortados e suas vértebras seccionadas. (Assim acontece quando o dissolvemos)

Ventos propícios empurram tua barca até o porto.

As divindades das quatro regiões do espaço te adoram. Ó tu, Substância Divina, de que procedem todas as formas e todos os seres…

Eis que acabas de pronunciar uma palavra e a terra silenciosa te escuta…

Tu, Divindade única (Cristo Solar), tu já reinavas no céu em uma época em que a terra com suas montanhas ainda não existia.

Tu, o Rápido! Tu, o Senhor! Tu, o Único! Tu, o Criador de tudo quanto existe!

Na aurora dos tempos, tu modelaste a língua das Hierarquias Divinas”. (Ele põe a palavra na laringe dos Deuses.)

Tu arrancaste os seres do Primeiro Oceano (o Caos) e os salvaste em uma Ilha do Lago de Hórus (o Íntimo).

Possa eu respirar o ar das ventas de teu nariz e o vento do norte que envia Nut (a Mãe Divina), tua Mãe.

Ó Rá! Digna-te santificar meu espírito. Ó Osíris! Devolve à minha alma sua natureza divina! Glória a ti, ó Senhor dos Deuses! Louvado seja teu nome.

O Criador de obras admiráveis! Aclara com teus raios meu corpo que repousa na terra para toda a eternidade.”

(Esta oração é textual do Livro Egípcio da Morada Oculta)

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