O reino subterrâneo – O mistério dos mistérios

4
11340

“Quanto maior for a Inteligência num homem, menos mistérios tem a existência para ele, pois todas as coisas lhe parecem levar dentro de si mesmas seu próprio Mistério.” (Schopenhauer)

Inicialmente, citemos alguns dos mais conhecidos escritores que estudaram o mistério do Mundo Subterrâneo e seu supremo hierarca, o Rei do Mundo Melquisedeck (ou Melquisedeque).

Ferdinand Ossendowski

“‘Pare’ – murmurou o meu guia mongol quando atravessávamos a planície próxima do Tzagan Luk –‘Pare!’ Apeou-se de seu camelo, o qual se deitou sem que fosse necessário que lhe ordenasse. O mongol elevou as mãos num gesto de prece e repetiu o mantra sagrado: OM MANI PADME HUM… Imediatamente, os outros mongóis pararam seus camelos e começaram a rezar.

Que aconteceu – pensei, assombrado, e fazendo parar meu camelo. Os mongóis oraram por alguns momentos e, em seguida, montaram em seus camelos e seguiram.

‘Olhe’ – disse-me o mongol – ‘como os camelos mexem suas orelhas aterrorizados, como as manadas de cavalos permanecem imóveis e atentas e como os carneiros e o gado se ajoelham no chão.

Notou como os pássaros deixaram de voar e os cães de latir: O ar vibra docemente, ouve-se um cântico que penetra o coração de todos os homens, animais e pássaros! O vento cessou de soprar e o Sol parou em seu curso. Todos os seres vivos, tomados de medo, prostraram-se. O Rei do Mundo, em seu Palácio Subterrâneo, ora pelo futuro dos povos de toda a Terra.’ Assim falou o velho mongol…”

Ossendowski

Começava aí um estranho relato do explorador Ferdinand Ossendowski em sua obra Bestas, Homens e Deuses acerca das tradições orientais, especialmente tibetanas, mongóis e chineses sobre Rigden Jyepo, o Soberano deste Mundo e seu vastíssimo império situado nas entranhas subterrâneas.

Inicialmente, esse explorador polonês deu pouca importância aos testemunhos que vinham de diversas fontes, o que aconteceu somente mais tarde, quando ele se dera conta da impossibilidade das múltiplas coincidências.

Cabe lembrar que os mesmos relatos foram relatados pelo explorador sueco Sven Hedin, em sua portentosa obra No Coração da Ásia, de 1903.

Em suas viagens pela Ásia Central, Ossendowski ouviu histórias diversas, como por exemplo, aquela em que uma tribo mongol rebelde, procurando escapar de Gengis Khan, escondeu- se num país subterrâneo. Outro aldeão mongol havia lhe mostrado, na região de Nogan Khul, uma porta segundo a qual um caçador penetrou e, conseguindo voltar, contou o que tinha visto.

Os lamas cortaram-lhe a língua a fim de impedi-lo de falar sobre tais mistérios; muitos anos depois, já velho, esse mesmo caçador voltou à entrada da caverna e desapareceu para nunca retornar. Também um monge Houtuktu (Buda Vivo) informara a Ossendowski sobre a aparição do Rei do Mundo à porta de saída de uma caverna, que dava acesso ao mundo subterrâneo.

Porém, seus relatos ainda são muito fragmentários, porque os únicos portadores conhecidos desses mistérios até então eram os lamas amarelos e também os vermelhos, que se mostravam inquietos e reticentes diante de indagações sobre o Reino Subterrâneo.

Durante sua estada em Urga (atual Ulan-Bator, capital da Mongólia), Ossendovski procurou mais explicações com o Buda Vivo mongol. Indagado, esse pontífice voltou-se bruscamente e fixou- o com seus velhos olhos. Os outros lamas que os acompanhavam, ao ouvirem o diálogo, expressaram assombro. Não fora possível conseguir algo deles.

Essas e outras experiências de Ossendowski ocorreram por volta de 1921. Alguns anos antes, porém em local bem distante, outro explorador europeu, o marquês de Saint-Yves D’Alveydre, viajava pela Índia e regiões vizinhas e recebeu as mesmas tradições, os mesmos relatos. Sábios hindus lhe passaram explicações até então reservadas à casta brâmane, que foram transcritas no livro Missão da Índia na Europa.

Em 1885, ocorreu um fato estranho. D’Alveydre recebeu ameaças de uma estranha confraria, que se intitulava Os Homens de Negro. Sob ameaça de morte, foi obrigado a destruir os originais desse seu livro, juntamente com todas as cópias existentes, entregues exclusivamente a um número seleto de estudiosos ocultistas. Por sorte, um desses exemplares escapou da destruição e, sob os auspícios de Papus, famoso discípulo de Eliphas Lévi, o livro pode ser conhecido pelo mundo todo.

No entanto, apesar das muitas informações ali contidas, também essa obra ilustra pouco acerca da realidade misteriosa do Mundo Intraterreno, chamado Agarthi. O autor escreveu entusiasmado, antes de ser ameaçado e parar suas investigações:

D’Alveydre

Saint-Yves D’Alveydre

“Onde está o Agarthi… Em que preciso lugar se encontra… Por quais caminhos há que se andar, e que povoados há que atravessar para se chegar até lá… A essas perguntas que farão com toda segurança os diplomatas e os homens da guerra, não convém responder enquanto não se realizar ou pelo menos se firmar o entendimento sinárquico…

Porém, como sei que em suas diversas competições na Ásia algumas potências roçam, sem se darem conta, este território sagrado… como sei que, em caso de um possível conflito seus exércitos passarão sobre e junto a ele… pela humanidade, para com esses povos e para o próprio Agarthi, vacilo em prosseguir na divulgação que iniciei…”

Saint- Yves D’Alveydre influenciou sobremaneira o ocultismo europeu e a história, mais do que se imagina: suas pesquisas se tornaram base filosófica de diversas escolas esoteristas européias e americanas. Notemos, por exemplo, que um dos discípulos de Saint-Yves foi instrutor de Rudolf Hess, um dos mentores espirituais de Hitler…

Roerich

Nicholas Roerich

Autor do livro Shamballah.

“Lama, fale-me algo de Shamballah.” Esse foi o início de um longo diálogo entre um monge budista mongol e o viajante russo Nicholas Roerich, em 1928. Considerado por Mikhail Gorbatchov como um dos pilares da cultura russa, Roerich estudou esoterismo, religiões orientais e arqueologia para tentar compreender as tradições dos lugares por ele explorados. Esse grande teosofista e pintor do realismo fantástico viajou pela Mongólia, atravessou os Montes Altai, o Tibet etc., para captar a sabedoria das culturas ali enraizadas.

Ao escutar a pergunta, o Lama tentou se esquivar a todo custo com respostas evasivas, mostrando a Roerich a sacralidade desse tema.

Porém, após muita insistência, Roerich conseguiu tirar algo desse sábio mongol sobre a Chang Shamballah e Seu Grande Reitor, conhecido no budismo tântrico como Rigden Jyepo. Sobre as experiências de Roerich sobre os mistérios da Terra Oca, falarei mais num capítulo posterior.

Enfatizo neste texto o fato de a maioria dos grupos de estudos espiritualistas e das religiões esotéricas manter reservas quanto à divulgação desse tema. Até mesmo nos dias de hoje poucas pessoas, mesmo instrutores de esoterismo, conhecem muito pouco sobre as tradições dos Reinos Subterrâneos.

Isso se deve talvez à pouca informação, fragmentária, que vemos na literatura ocultista. Portanto, concluo que a curiosidade geral sobre as “lendas subterrâneas” levou a uma abundância de especulações e manipulações ao longo da história. Vejamos…

Próximo Capítulo

4 COMENTÁRIOS

    • Não, Papus não foi nem mago, nem “mago negro”. Foi um grande estudioso das tradições primordiais que, não fossem a assombrosa ganância de muitos sacerdotes brancos, teriam iluminado muitas mentes ignorantes ao longo dos tenebrosos séculos XIX e XX.
      Agradeço aos organizadores e idealizadores deste site pelas idéias frutíferas e pela honrosa ajuda no processo de esclarecimento de nossas razões tão turvadas pelas sombras do materialismo e da hipocrisia religiosa que hoje reina em nosso meio.

  1. Papus foi sim, mago negro, se utilizava de processos mediúnicos, incorporando entidades abismais e muito mais.
    Isso não quer dizer que fosse pessoa má, mas se enredou por caminhos ruins.

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.