Gnose e o cristianismo primitivo

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Com a descoberta dos evangelhos apócrifos em Qumran (no Mar Morto – Palestina) e em Nag Hammadi (Alto Egito), podemos considerar que estamos vivendo momentos importantes para o redescobrimento da cristandade primitiva, tal como era vivida nos tempos de Jesus. Juntamente com os estudos da moderna Gnose do Mestre Samael Aun Weor, vamos formar uma base sólida a respeito dos acontecimentos que marcaram a passagem do Mestre dos Mestres na Terra, sua doutrina crística, sua missão, e compreenderemos também um pouco mais a respeito da influência dos gnósticos para a formação do verdadeiro cristianismo.

As Escolas de Mistérios Maiores sempre existiram no mundo e são representantes da Grande Fraternidade Branca na Terra. Essas escolas cumprem a missão, até os dias de hoje, de formar, ou melhor, iniciar devidamente os Instrutores do mundo de acordo com seu raio de trabalho, para a preconização do trabalho na Grande Obra do Pai.

Para não nos distanciarmos muito da questão da cristandade gnóstica, devemos citar apenas que desde a Atlântida estes ensinamentos gnósticos já vinham sendo ensinados e publicados pelas escolas mais antigas. Entre elas, citamos os naga-maias do Tibete, os maias, os incas, os muiscas (da Bolívia), os egípcios etc. Todos eles herdaram seus conhecimentos dos atlantes.

O paganismo, por volta do século 1° a.C., estava em plena fase de decadência. Por exemplo, os sacerdotes e os deuses greco-romanos já não eram mais respeitados e venerados pela população ou por seus governantes, os quais se divertiam com peças teatrais que desmoralizavam as divindades correntes. O mestre Samael afirma que naquela época artistas satirizavam em comédias os divinos rituais, imitavam o deus Baco através de uma mulher embriagada ou o caricaturavam como um bêbado pançudo montado em um burro. A deusa Vênus era representada como uma adúltera que andava à procura de prazeres orgiásticos.

Nem o deus Marte, o poderoso Deus da Guerra, era respeitado, zombavam dele e o ironizavam. Tal era a decadência do paganismo. Na Europa Ocidental ocorria o mesmo, com a decadência dos ritos druídicos e nórdicos, os quais usavam indiscriminadamente sacrifícios humanos e orgias. Vemos essa mesma decadência também na Pérsia e, enfim, em todos os cantos do Império Romano.

A Cristandade Antes de Jesus

Jesus sabia que havia uma nova necessidade religiosa para a época, como afirma o mestre Samael, e na região da Palestina, onde veio afirmar sua missão, já existiam algumas Escolas de Mistérios atuantes, mesmo que timidamente. Dentre essas Escolas algumas tomam maior destaque, como os Essênios, os Batistas (Ordem a qual pertencia João), os Nazarenos etc.

Os textos apócrifos atestam a atividade de Jesus entre a casta dos Essênios, que levavam uma vida de restrições materiais. Tinham seus monastérios às margens do Mar Morto. Formavam uma comunidade humilde e esta era uma exigência fundamental para que o candidato fizesse parte da “grei”. Entre os vários procedimentos que deveriam ser praticados pela comunidade, estavam os votos de Pobreza, Castidade e Silêncio, entre outros. No voto de pobreza era exigido que o neófito se despojasse de todos seus bens materiais compartilhando-os com a comunidade, pois, segundo as regras, tudo era de todos e não poderia haver o “meu” e o “teu”.

Quando o candidato queria entrar para a casta essênia lhe era exigido também viver decididamente o voto de silêncio. Para isso, ficava afastado pelos menos algumas centenas de metros da comunidade, apenas observando de longe seus costumes e ritos diários. Dizem os historiadores e pesquisadores dos pergaminhos de Qumran que os essênios viviam de sua própria produção de alimentos, ou seja, não compravam ou vendiam, não tinham comércio de forma alguma com as cidades próximas. Vestiam-se muito simplesmente com túnicas de linho de algodão brancas – por isso também eram conhecidos como “os anjos do deserto”.

Havia também entre os essênios a prática da cura pela imposição das mãos. Entre outras práticas rituais, era comum entre as comunidades de Qumran “Exercícios com a Energia do Sol”, a Eucaristia, a Santa Unção etc. Aqui não vamos nos aprofundar nestes detalhes, apenas fica a referência para que possamos compreender que os atos de Jesus no evangelho canônico não demonstram nada de novo, ou seja, as cerimônias, as festividades, os ritos crísticos, a eucaristia etc., não constituem uma invenção dos cristãos para a nova religião que se iniciava. Tudo isso, na verdade, é tão antigo como o mundo. Todos os povos da Terra em seus princípios religiosos de uma maneira ou outra sempre praticaram esta gnose iniciática. Por isso dizemos que a Gnose é o Tronco primordial de onde nasceram os múltiplos “galhos” das religiões de todos os tempos.

Apesar do voto de castidade, não era proibido o casamento entre os adeptos da mesma comunidade. A dedução lógica é que, se o Mestre Jesus foi membro ativo dessa casta, então, a castidade a que se refere não significa ser o celibato repressor que exclui a mulher de sua vida sexual e sim a Castidade Científica, aquela que trabalha com as forças superiores da Magia Sexual, o Arcano AZF dos alquimistas medievais.

Havia também os Batistas, casta gnóstica a qual João Batista pertenceu; os Nazarenos (cuja etimologia vem da palavra “naza”, que significa “homem de nariz reto”). Segundo o mestre Samael, Jesus tinha sangue celta por parte de pai e hebraico por parte de mãe. Daí a desconfiança dos sacerdotes judeus sobre a origem étnica de Jesus; e também a palavra “nazareno” significa “representantes do culto da serpente”. A maioria das seitas gnósticas predica a sabedoria da serpente (Kundalini) e isto é o que diferencia a verdadeira gnose das falsas.

Diz um dos textos de Qumran que existiu um grande personagem, antes de Jesus, conhecido como Mestre da Justiça, ou Mestre da Retidão. Esse personagem foi um grande divulgador da doutrina crística nos arredores da Terra Santa. Não sabemos qual sua origem e muito pouco temos de sua história. Acredita-se entre os gnósticos modernos que era uma das encarnações do próprio mestre Jesus, que estava ele mesmo preparando sua volta àquelas regiões.

A Formação da Igreja Cristã Pós-Ressurreição de Jesus

Muitos anos se passaram após a ressurreição do Cristo Jesus, e seus apóstolos se espalharam por todo o Oriente e também pelo Ocidente europeu. Levavam a Gnose do Cristo, a mensagem de redenção aos povos pagãos da Grécia, Ásia, Egito, Índia, etc…

Paulo e Pedro foram pregar na Grécia e em Roma; André foi chegou à Escócia; Tomé se dirigiu à Índia; Marcos ao Egito; Madalena chegou à França; Maria e José foram à Síria e Turquia; Santiago ficou em Jerusalém, etc…

Selos da linha gnóstica dos Ofitas

Cada apóstolo viveu seu drama crístico particular nas regiões a que foi determinado espalhando sua “boa-nova” (Evangelho). Foram perseguidos, humilhados, incompreendidos, presos, torturados e, na maioria dos casos, assassinados. Mas suas mensagens foram bem acolhidas por aqueles poucos fiéis, sedentos de sabedoria divina, e, assim, com o passar dos séculos, o Cristianismo gnóstico foi ganhando força e popularidade. Paralelamente a isto, também, entre os gnósticos foram crescendo gradualmente as correntes cristãs que, por um motivo ou outro, eram contrárias ao ensinamento original e já não concordavam entre si sobre a mesma Gnose. É aí que aparecem no cenário as primeiras divisões entre as seitas emergentes da época, já no decorrer do primeiro século.

Citamos aqui uns poucos exemplos para ilustrar melhor aquele período e percebermos a diferença radical entre as seitas cristãs (que viriam a ter o nome de Catolicismo) e os gnósticos:

Setianos: Rendiam culto à Sabedoria Divina representada pela Santa Trindade – Caim, a carne- Abel, o mediador- Set, o Deus-sabedoria – Set era considerado igual a Cristo. Os Setianos, segundo o Mestre Huiracocha, foram os primeiros Teósofos; este Mestre afirma que no sarcófago de Set foi achado o Livro dos Mortos e escondido pela Igreja Católica.

Naassenos: Conhecidos como ofitas (do grego Ophis) eram “adoradores” da serpente; versados em ciência, acreditavam (esta pode ter sido sua falha) que o líquido da serpente (em sua maior parte venenoso, segundo seus detratores que não conheciam o profundo significado da “serpente e seu veneno”) poderia salvar a humanidade da escravidão do pecado; foram herdeiros dos conhecimentos de Tomé e do Evangelho dos Egípcios; eram astrólogos e tinham o cálice como seu símbolo. Profundos conhecedores da Alquimia.

Valentinianos: São Valentim (morreu no ano 161 d.C.) foi expulso da Igreja por heresia; os Valentinianos mantinham contato constante com as congregações cristãs não-gnósticas da época, não eram bem-vistos pelos bispos da Igreja por “participarem das missas e homilias da Igreja e por trás interpretavam tudo diferentemente entre os seus”. Isto é o que afirmava Irineu, o bispo de Lyon em suas ferozes críticas aos gnósticos; Valentim foi um grande matemático e a Cabala era sua filosofia de vida; sustentava que Jesus era gnóstico; seus ensinamentos sobre transmutação sexual eram semelhantes aos demais Mestres e escolas gnósticos.

Como se pode perceber, os conceitos entre os gnósticos e os “cristãos” eram divergentes. Os gnósticos tiveram um inimigo declarado que os perseguiu até o desaparecimento de quase todas as comunidades gnósticas: Irineu, conhecido como Bispo de Lyon. Esse personagem, juntamente com Tertuliano, Policarpo, Justino, Inácio e Hipólito, são unânimes em declarar publicamente a “heresia” gnóstica.

Naquela época circulavam diversas Escrituras Sagradas provenientes das mais variadas regiões do Oriente. Muitos desses escritos, segundo historiadores contemporâneos, estavam saturados de elementos budistas, gregos, egípcios, hindus etc. Isto se devia a que a cidade de Alexandria, no Egito, era o centro da erudição filosófica. Ali se encontrava de tudo que se referia ao que havia de mais atualizado no mundo da época. Além de capital comercial, Alexandria recebia constantemente filósofos, místicos, membros de quase todas as religiões existentes em outros países, profetas (muitos deles, claro, puros charlatães), magos, visionários etc. Os sacerdotes judeus e também os cristãos faziam de tudo para evitar que os conceitos helenizados contaminassem seus templos dedicados ao Deus antropomórfico.

Entre os textos achados em Qumran destaca-se a obra Filósofo Fumena ou O Livro Secreto dos Gnósticos Egípcios, como o nomearam os pesquisadores. Nesse livro, Jesus pede permissão ao seu Pai (Interno) para descer desde o Absoluto até este mundo físico, passando pelos Eons (medidas iniciáticas), e pede para levar o conhecimento revelador através da Gnose. Fica, então, estabelecida a palavra Gnose como representação do Ensinamento Divino, puro, imaculado, sem manchas. Outro texto bastante interessante é o Papiro Nu ou Confissões Negativas, constituído de 42 pontos ou confissões que o neófito declara diante de sua divindade interna, seu “Kaom interior”, seu juiz da consciência. Este é um trabalho psicológico idêntico ao que o mestre Samael Aun Weor ensina para compreendermos e aniquilarmos nossos defeitos psicológicos. Um pequeno exemplo desta confissão: “Hoje não roubei, não matei nenhum ser vivo, não maltratei meu servo, não falei palavras de ironia, não cobicei a mulher do próximo, não adulterei o peso da balança etc.” Eis o trabalho de revolução da consciência ensinado por Samael!

Também circulava entre as comunidades gnósticas as palavras de Jesus, após sua ressurreição, no Monte das Oliveiras, quando ainda passou 11 anos instruindo seus discípulos mais próximos, sobre a Gnose. Esses diálogos foram compilados em uma escritura sagrada chamada Pistis Sophia, a bíblia dos gnósticos. Primeiro foi escrita em copta e traduzida para o grego. Muito se tem especulado sobre seu verdadeiro significado, porém (apesar de algumas traduções modernas de boa qualidade), apenas o mestre Samael conseguiu desvelar sua mensagem. Isso só foi possível através de suas “viagens espirituais” dentro do Mundo do Cristo Cósmico. Nessa região crística chegam apenas aqueles que encarnaram o Cristo em si mesmos. E nós, cristãos gnósticos, cremos que Samael Aun Weor é o Cristo desta Era Aquariana que veio nos entregar novamente a doutrina de salvação por meio da Gnose.

Segundo a mestra Helena Blavatsky, fundadora da Sociedade Teosófica no século 19, “até o século 4º as igrejas não possuíam altares. Até então, o altar era uma mesa colocada no meio do templo para uso da comunhão ou repasto fraternal”. E continua ela: “A Ceia, como missa, era, em sua origem, feita à noite”. Com o passar dos séculos, as igrejas foram sendo adornadas com cópias de altares da Ara Máxima da Roma pagã. Devemos saber que os primeiros cristãos (gnósticos em sua essência) não adotavam altares ou imagens publicamente. Acreditamos que de acordo com o nível de consciência de seus líderes-sacerdotes, foi-se modificando esse conceito. Isso passou a acontecer já por volta do século 2º.

Roma persegue cristãos

O Império Romano tinha seus próprios deuses e não sentiam simpatia com a nova religião que crescia sob seus olhos. Genius era o nome dado ao deus criado pelos sacerdotes romanos de acordo com a vontade do imperador, que era tido como um deus entre os cidadãos romanos. Para atender às mais diversas situações do povo, para cada um dos deuses (Apolo, Afrodite, Cibele, Vesta, Vênus etc.) eram feitos festivais e adorações anuais, mensais, semanais etc. Percebe-se, aqui, a cópia das Igrejas Católica e Ortodoxa em suas festividades durante o ano com seus santos venerados pelos fiéis. Obviamente, o Império Romano não admitiria uma ofensa sequer contra suas crenças e seus deuses pagãos vinda de comunidades judaicas helenizadas.

Inúmeros livros bíblicos e gnósticos foram queimados para “adaptar” o ensinamento crístico aos Donos do Poder

A princípio, as comunidades cristãs eram formadas por judeus convertidos que aceitaram Jesus como seu Messias (Enviado). Com o decorrer do tempo, vários povos foram sendo evangelizados pelos discípulos dos apóstolos e aí foram se agregando à nova religião elementos de várias nacionalidades, inclusive romana e grega, que compartilhavam os mesmos deuses em suas crenças. Um exemplo dessas adaptações é a data de 25 de dezembro, considerada até hoje como o dia em que Jesus nasceu na Terra Santa. Na verdade, ninguém sabe o dia correto em que Jesus nasceu. A absorção dessa data deveu-se ao fato de que os pagãos de muitos rincões do Império Romano (tanto no Ocidente quanto no Oriente) rendiam culto ao Deus do Sol e do Fogo nessa data, considerada como o início em que o Sol começa sua viagem de volta à Terra para que Ele, o Deus Sol, nos traga novamente a vida, e a vida em abundância.

Com o número crescente de adeptos à nova religião em Roma, o império decidiu que os cristãos representavam um perigo maior para seu poder sobre as massas. Sob essa visão de desconfiança, todo aquele que se confessasse ser cristão era julgado e condenado à morte imediatamente. Irineu, o bispo de Roma, também conta que sofreu com as perseguições romanas. Assistiu a vários de seus “irmãos” cristãos serem queimados, torturados e mortos nas arenas.

Enquanto Roma perseguia cristãos, pois para o imperador parecia não haver distinção entre estes e os gnósticos (pois as duas linhas já estavam se separando cada vez com mais destaque), Irineu e seus sequazes perseguiam os gnósticos, num jogo de gato e rato. Irineu e Tertuliano fizeram duros ataques aos gnósticos julgando-os hereges. Afirmavam que a cada dia eles apareciam com um novo evangelho; achavam também um absurdo o fato de as mulheres oficiarem em seus rituais, e que só os homens deveriam fazê-los. Para Irineu e Tertuliano, um grande filósofo da época, os gnósticos hereges deveriam desaparecer da cristandade.

Outra coisa que incomodava a Igreja predominante em Roma era o fato de os gnósticos sempre manterem uma postura neutra perante as perseguições que os cristãos sofriam. Essa “indiferença” adotada pelos gnósticos fazia com que Irineu odiasse cada vez mais seus conceitos filosóficos de vida. Entre os vários aspectos do gnosticismo primitivo, algumas escrituras mostram como seus conceitos sobre Deus e o Cristo diferiam daqueles apresentados pela Igreja Católica de Roma. Vejamos alguns exemplos:

No Evangelho de Tomé consta que Jesus disse: “Se manifestarem aquilo que têm em si, isso que manifestarem os salvará. Se não manifestarem o que têm em si, isso que não manifestarem os destruirá”. Este texto nos lembra um koan do zen-budismo, não é?

Em outro texto achado em Nag Hammadi, intitulado Trovão, Mente Perfeita, lemos um poema extraordinário na voz da potência feminina de Deus:

Pois eu sou a primeira e a última.
Eu sou a reverenciada e a escarnecida.
Sou a promíscua e a consagrada.
Sou a esposa e a virgem…
Sou a infecunda,
e muitos são os meus filhos…
Sou o silêncio que é incompreensível…
Sou a pronunciação do meu nome.

Entre os anos 140 e 160, Teodoto, um grande mestre gnóstico, escreveu na Ásia Menor que: “O gnóstico é aquele que chegou a compreender quem éramos e quem nos tornamos; onde estávamos… para onde nos precipitamos; do que estamos sendo libertos; o que é o nascimento, e o que é o renascimento”.

Monoimus, outro mestre gnóstico, dizia: “Abandone a busca de Deus, a criação e outras questões similares. Busque-o tomando a si mesmo como ponto de partida. Aprenda quem dentro de você assume tudo para si e diga: ‘Meu Deus, minha mente, meu pensamento, minha alma, meu corpo’. Descubra as origens da tristeza, da alegria, do amor, do ódio… Se investigar cuidadosamente essas questões, você o encontrará em si mesmo”.

Até antes da descoberta dos manuscritos do Mar Morto e de Nag Hammadi, entre outras descobertas passadas, só tínhamos informações sobre os gnósticos através dos violentos ataques escritos por seus opositores. O bispo Irineu, que era responsável pela igreja de Lyon, por volta do ano 180, escreveu cinco volumes intitulados Destruição e Ruína Daquilo que Falsamente se Chama Conhecimento, onde começa prometendo “apresentar as opiniões daqueles que hoje ensinam heresias… e mostrar como suas afirmações são absurdas e incompatíveis com a verdade… Faço isso para que… vocês possam instar todos os seus conhecidos a evitarem esse abismo de loucura e blasfêmia contra Cristo.

Como diz o Mestre Huiracocha, bispo da Igreja Gnóstica Ortodoxa nos mundos superiores, que escreveu na sua obra A Igreja Gnóstica, que os gnósticos não precisam de leis ou dogmas, e sim, de uma senda. E isso contraria as normas da seita católica quando afirma que o corpo de Cristo é formado pelos fiéis e a Igreja Católica espalhada mundo afora. Até o conceito de Criador é diferente entre as duas partes. A Igreja de Roma ainda adota o mesmo conceito dos judeus quando aceitam que Deus e a criatura são distintos entre si.

Neste caso, Deus está lá em algum ponto do universo, observando suas criaturas, condenando uns ao Inferno e oferecendo o Paraíso a outros, lançando raios de ira em nossas cabeças, vingativo, caprichoso e cheio de manhas como uma criança enfadonha. Já os gnósticos concebiam, e ainda são assim, que Deus, o Incriado, o não-formado, o Incognoscível, está escondido dentro de sua própria criação, e que só conseguiremos realizá-lo dentro nós quando erradicarmos de nossa psique os elementos indesejáveis que carregamos e que adormecem nossa Consciência. Assim como predicavam os antigos gnósticos, temos de realizar a Gnose dentro e fora de nós. Aí, sim, poderemos conhecer Deus face a face sem morrer.

O martírio: a indústria da salvação e a fé em Cristo

As matanças de cristãos, nas arenas de Roma, viraram um verdadeiro festival semanal de carnificina para o público romano e seus governantes que se divertiam com o sofrimento dos “acusados de se recusarem a cultuar o deus Genius do Império Romano”. Pertencer ao movimento cristão (seja ele católico seja gnóstico ortodoxo) era um perigo que todo fiel sabia. Elaine Pagels, em seu livro Os Evangelhos Gnósticos, cita a Tácito e Suetônio, o historiador da corte imperial (c. 115), que partilhavam, ambos, de desprezo absoluto pelos cristãos, e que ao narrar a vida de Nero, Suetônio menciona as coisas boas que o imperador fez com a “punição imposta aos cristãos, uma classe de pessoas dadas a uma nova e maléfica superstição”. E ainda Tácito elaborou seus comentários sobre o incêndio de Roma:

Em primeiro lugar, prenderam-se os que confessavam ser cristãos; depois, pelas denúncias destes, uma multidão inumerável – não tanto por terem participado do incêndio, mas por seu ódio ao gênero humano. O suplício desses miseráveis foi ainda acompanhado de insultos, porque ou os cobriram com peles de animais ferozes para ser devorados pelos cães (principalmente pelos ferozes mastins napolitanos), ou foram crucificados, os queimaram de noite para servirem como archotes e tochas ao público. Nero ofereceu seus jardins para esse espetáculo…

Para Irineu, Tertuliano e outros líderes da nova igreja, o martírio, apesar da violência imposta, serviu para uma propaganda generalizada em torno da salvação pela fé em Jesus Cristo. Para atingir o sonho de formar uma igreja padronizada em todo o mundo, Irineu e os seus não mediram esforços para fazer com que a doutrina cristã se espalhasse mundo afora através da morte dos fiéis. Encorajavam a todos os cristãos para que tivessem coragem suficiente para expor sua fé, mesmo nas barras dos tribunais romanos.

Justino, um filósofo que se converteu ao cristianismo entre os anos 150 e 155, encorajava e defendia, com cartas aos oficiais do império, que a matança dos cristãos e sua coragem de morrer confessando Cristo diante da morte certa era um incentivo àqueles que queriam conhecer esta nova doutrina de perto e saber o porquê de tantos morrerem em nome de Jesus. Exortava também que o martírio era a prova máxima para a redenção dos pecados e que desta maneira estariam, cada um, dentro das mesmas condições que Jesus passou para redimir o mundo. Com esses argumentos, Justino, Irineu, Tertuliano e outros bispos da igreja, encorajavam seus fiéis a serem martirizados por vontade própria.

Já os gnósticos mantinham sua neutralidade, mesmo sendo perseguidos e também sendo mortos. Acreditavam que o martírio físico não era o caminho para a salvação da alma. Esse martírio, como uma alegoria, tinha de ser dentro do indivíduo, para que se pudesse purificar seu espírito das vontades terrenas, do apego, do egoísmo etc. Logicamente muitos gnósticos foram mortos pelo poder de Roma, porém, segundo historiadores, os “cristãos” o foram em número muito maior.

Enfim, esta propaganda cristã serviu para recrutar em suas fileiras cada vez mais fiéis, que viam com bons olhos todo aquele sacrifício como algo “divino”, digno de admiração. (Então, por que não se afiliar e ganhar o céu?)

A institucionalização da Igreja Católica

Por volta do ano 200, a Igreja Católica começa a tomar forma e sua institucionalização foi reforçada pela iniciativa de Irineu em padronizar seus dogmas, rituais, cerimônias, festividades, missas, etc. A ideia era unir todas as igrejas num só estatuto em que se poderia levar a igreja a ser a dona da “verdadeira” doutrina de Cristo. Irineu promoveu várias viagens aos mais longínquos lugares para propor as diretrizes que seriam adotadas por todas as igrejas espalhadas pelo mundo.

Dentro dessas propostas estava a canonização dos evangelhos dos apóstolos. Pedro foi o primeiro pontífice da igreja, conforme acreditava-se na época. Isso também o afirma o mestre Samael. Portanto, a igreja seria um meio para se chegar a Deus, passando por seus representantes que eram os bispos, os padres e os diáconos.

Dever-se-ia, então, organizar legalmente a igreja, que seria Católica – universal – e, para que o povo ficasse sob as condições e vontades da Igreja, os evangelhos seriam escolhidos a dedo para que a heresia não predominasse dentro dos templos. Textos que exortavam a respeito da reencarnação foram deixados de lado por serem heréticos.

Outros textos que fomentavam a adoração da feminilidade/maternidade de Deus também foram rechaçados pelos bispos. Era preciso trazer a multidão para dentro da Igreja e prendê-la psicologicamente aos dogmas, prometendo os céus aos convertidos e batizados e jogando aos infernos eternamente aqueles que escolhiam outras formas de adoração à Divindade que não fossem as impostas pela Igreja dominante.

Dentro desses dogmas eclesiásticos também estava claro que a mulher jamais participaria de qualquer ofício sacerdotal que fosse. Nesse caso, Tertuliano, o filósofo, ataca veementemente quando diz:

“Não é permitido a nenhuma mulher falar na igreja, nem é permitido que ensine, ou que batize, ou que ofereça a eucaristia, ou que pretenda para si uma parte de qualquer atribuição masculina – para não falar em qualquer função sacerdotal.”

Em outro texto, continua a indignação de Tertuliano:

“Essas mulheres hereges – como são atrevidas! Carecem de modéstia, e têm a ousadia de ensinar, de discutir, de exorcizar, de curar e, talvez, até de batizar.”

E era exatamente esta a participação das mulheres gnósticas em suas congregações (eclésias); participavam em praticamente todos os ofícios do templo. Os bispos católicos odiavam e acusavam de heresia esses procedimentos femininos. Para a Igreja, o que justificava seu conceito era o fato de acreditarem que Deus era masculino e seu filho, Jesus, também.

Em 1977 o papa Paulo VI, também chamado de Bispo de Roma, declarou que uma mulher não pode ser padre “porque nosso Senhor era homem!” Diante de tal declaração, não são necessários longos comentários para se dizer que a Igreja Católica continua com suas arcaicas e preconceituosas ideias. Portanto, os textos gnósticos ainda desafiam esse preconceito da Igreja dominante.

Irineu encoraja seus fiéis na fé repousada na autoridade absoluta: as escrituras canônicas, o credo, os rituais da Igreja e a hierarquia clerical. Esta medida ganha força com a conversão de Constantino, no século 4°. O imperador Constantino decreta o Cristianismo como religião oficial de Roma. E assim, os católicos ganham força total para a expansão de sua doutrina que, de acordo com certos pesquisadores da teologia cristã, poderíamos chamar de “paulinismo”, porque a formação doutrinária e organização da Igreja começou basicamente com as viagens missionais do apóstolo Paulo a diversas regiões do Oriente e da Ásia Menor – Grécia, Galácia, Corinto, Éfeso etc. – e sabe-se hoje que seu ministério tem como origem a antiga Antioquia – que fica na Turquia.

O Gnosticismo, em seus primórdios, teve também suas correntes involutivas. Duas delas são bem conhecidas por historiadores, as quais são denominadas: Marcionismo, de Marcion, e Cerdonistas, de Cérdon. Essas duas correntes gnósticas trilharam pela linha oposta dos gnósticos levando a mensagem do evangelho totalmente distorcida dos originais. A Igreja Católica acusava todas comunidades gnósticas de heresia e prática de paganismo, bruxaria, etc., por se basearem nas práticas involutivas destas correntes involutivas do gnosticismo primitivo.

Como exemplo de uma corrente involutiva na gnose contemporânea, citamos o relato de Fernando Salazar Bañol em sua palestra Os Gnósticos Através da História:

“Quando realizamos uma visita aos Estados Unidos da América do Norte para investigações e para atividades gnósticas, vimos acontecimentos estranhos. Entre eles, nos deparamos com uma Revista Gnóstica. Essa revista não pertence à linha do mestre Samael, e um fato que demonstra claramente que não está sob o comando de Samael é o ensinamento que entrega. Dentre esses ensinamentos está um que se o denomina Masturbation Tantra, ou seja, a masturbação tântrica. Esse é um ensinamento completamente oposto ao que entrega o mestre Samael. Sob a palavra Gnose, eles ensinam um conhecimento contrário à sua doutrina. Há outra linha que aparece nos Estados Unidos e que se chama “Igreja Gnóstica Católica”. Ela não ensina a transmutação. Ao contrário, ensina a perda da energia criadora, além de ensinar também o vampirismo (homossexualismo tântrico).

Trata-se de uma linha que não pertence às nossas instituições, não pertence ao corpo de ensinamentos de Samael. Por isso, em vários países, em certas ocasiões a Igreja Católica e outras correntes doutrinárias não gostam dos gnósticos porque pensam que a linha da Gnose é como a linha dessas falsas correntes gnósticas”.

Toda verdadeira instituição gnóstica caracteriza-se pela transmutação sexual e pela morte  do ego.

O cristianismo, no decorrer dos séculos, sofreu diversas reformas internas e na doutrina. Os Concílios eram encontros de todos os sacerdotes e bispos de todo o Velho Continente onde se decidia o destino dos ensinamentos do Cristo Jesus e dos deixados pelos apóstolos. Muitos dos ensinamentos originais místicos – reencarnação, Deus-Mãe, trabalho de psicologia, os 7 corpos, iniciações etc. – foram banidos para sempre dos preceitos da Igreja Católica. O Grande Concílio do ano 325 talvez tenha sido o mais importante da história do Cristianismo. Ali aconteceu definitivamente a ruptura dos gnósticos do seio da Igreja Católica (dominante) e também definiu-se um outro ramo da igreja: os Ortodoxos Gregos, que até hoje mantêm certas semelhanças com as práticas do catolicismo, porém não aceitam a autoridade dos papas.

Dessa separação drástica os gnósticos tiveram de se esconder das perseguições da Igreja Católica, que os condenava por heresia, taxando-os de criminosos por possuírem textos considerados apócrifos, ou seja, que não provam sua autenticidade. Muitos desxes textos foram queimados pela Igreja em sua inquisição bárbara. Os textos que até hoje sobreviveram é porque alguns monges ou monjas o guardaram em locais de difícil acesso para que no futuro alguém pudesse resgatá-los e os Mistérios Crísticos pudessem novamente iluminar o caminho daqueles que se rebelam contra o mundo.

O mundo esteve em trevas durante quase 2 mil anos porque prevaleceu sobre a mente do homem o egoísmo, a inveja, a violência, a ignorância, o orgulho da ciência materialista. O Sol havia se ocultado e era revelado apenas para alguns buscadores persistentes da verdadeira Igreja do Cristo. Graças aos Mestres da Santa Igreja Gnóstica dos mundos superiores, temos a oportunidade de ver o Cristo-Sol brilhar novamente para a nossa salvação.

O Cristo da Era Aquariana, Samael Aun Weor, Senhor de Marte e Buda Maitreia, nos entrega de forma totalmente desvelada os ensinamentos crísticos que o Grande Cabir Jesus havia deixado aos seus apóstolos para que entregassem à humanidade.

Os sinceros seguidores do Cristo Cósmico têm o dever de manter estes ensinamentos em sua pureza original, sem manchas, máculas e fantasias, até que chegue o momento de guardá-los novamente dos olhares profanos. E aí, ao povo se dará o leite (as parábolas) e aos iniciados se dará o manjar (os Mistérios Crísticos).

O mestre Samael deixou seu corpo terreno no ano de 1977. Mas está conosco em espírito. Portanto, temos de ser guardiães de seus ensinamentos gnósticos para nosso próprio bem e também o da humanidade. Podemos até nos sentir como nos primeiros tempos de Jesus, em que seus discípulos e estudantes velavam pelas palavras deixadas pelo Cristo Jesus e pelo avatar da Era de Peixes (João Batista).

Paz INveRencIal . ‘ .

3 COMENTÁRIOS

  1. Olá! Boa tarde, alguém poderia me informar de onde foram retiradas as informações do mestre Samael sobre jesus? Algum livro dele? E informações como essa: ”O mestre Samael afirma que naquela época artistas satirizavam em comédias os divinos rituais, imitavam o deus Baco…”. Se alguém souber qual livro é, por gentileza poderia me informar?

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