quarta-feira, outubro 30, 2024

A Guerra Entre a Luz e as Trevas na Atlântida

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    Individualidades envolvidas no relato e suas reencarnações mais recentes:

    Alcyone (Jiddu Krishnamurti)

    Corona – (Samael Aun Weor)

    Heracles – (Annie Besant)

    Marte – (O Mestre Morya)

    Alcyone jaz meio adormecido, meio desperto, na musgosa e inclinada margem dum tumultuoso arroio. Seu rosto, mais ansioso que perplexo, reflete a perturbação de sua mente. É filho duma rica e poderosa família pertencente ao “Sacerdócio do Sol da Meia Noite”, dedicado ao serviço dos deuses do mundo inferior, cujos sacerdotes buscavam na escuridão da noite, nas tenebrosas cavernas subterrâneas, a passagem para abismos cada vez mais profundos e desconhecidos.

    Então, as principais nações cultas da Atlântida se haviam dividido em dois campos opostos. Um deles tinha por metrópole sagrada a antiga cidade das Portas de Ouro, e conservava o tradicional culto de sua raça, o culto do Sol. O Sol na beleza da alvorada, revestido das brilhantes cores da aurora e envolto nas radiantes luzes do crepúsculo, rodeado por mancebos e donzelas de sua corte; O Sol já no zênite de sua glória, em seu deslumbrante resplendor meridiano, quando difunde por toda parte seus fúlgidos raios de luz e calor; O Sol já no esplêndido leito de seu ocaso, quando matiza as nuvens de suavíssimos e indefiníveis tons, que atrás de si deixa a promessa de sua volta.

    O povo adorava o Sol com danças corais, incenso, flores, alegres cantos, trovas e baladas, oferendas de ouro e jóias, e divertidos jogos e desportos. O Imperador Branco governava os Filhos do Sol Refulgente, e sua estirpe havia mantido sobre eles durante milhares de anos indisputável senhorio. Mas, pouco a pouco, os apartados reinos governados por vice-reis declararam-se independentes e estabeleceram uma confederação encabeçada por um homem de sinistra influência que apareceu entre eles.

    ORHUARPA – O SENHOR DA FACE TENEBROSAEsse homem, chamado Oduarpa, de caráter ambicioso e astuto, concebeu que para consolidar a Federação e fazer oposição ao Imperador Branco, era mister recorrer à magia negra, pactuar com os moradores do mundo inferior e estabelecer um culto que atraísse o povo por meio dos prazeres sensuais e dos ímpios poderes mágicos colocados em mãos de seus adeptos. Em conseqüência do pacto com as potestades tenebrosas, havia Oduarpa prolongado a sua vida mais além do período normal e tornou seu corpo invulnerável às perfurações de lança e gumes de espada por meio da materialização duma couraça metálica que o escudava dos pés à cabeça como uma cota de malha. Aspirava Orhuarpa o poder supremo e estava a caminho de alcançá-lo, com a presunção de coroar-se no palácio da cidade das Portas de Ouro.

    O pai de Alcyone era um dos mais íntimos amigos de Orhuarpa, cujos recônditos projetos conhecia, e ambos esperavam que o rapaz os ajudasse resolutamente na realização de suas ambições. Mas Alcyone tinha anelos e esperanças distintos, que caladamente alimentava em seu coração. Havia visto em sonhos a majestosa figura de Marte, um dos generais de Corona, o Imperador Branco; havia recebido o influxo de sua profunda e dominante vista e escutado como se ao longe ressoassem estas palavras: “Alcyone; és meu e dos meus, e certamente virás a mim e te reconhecerás como meu. Não te comprometas com meus inimigos, porque és meu.” E Alcyone havia prometido ser súdito de Marte, como o vassalo de seu senhor.

    Nisto pensava Alcyone, embalado pelo rumor do arroio, porque sentia em si outra influência e seu sangue circulava ardente em suas veias. Oduarpa, desgostoso da indiferença, ou melhor, do retraimento de Alcyone no tocante ao culto religioso, mesmo em seus ritos externos de sacrifícios animais e oblações com bebidas excitantes, pensou em atraí-lo para os ritos secretos pelos agrados duma jovem (Cisne), formosa como o estrelado céu da meia noite, que o amava profundamente sem lhe haver conseguido cativar o coração. Entre o fosco brilho e a fascinante vista dos olhos de Cisne, flutuava a esplêndida visão, e de novo ouvia as comovedoras e murmurantes palavras: “És meu”.

    A mãe de Cisne, velha bruxa da pior espécie, sugeriu à sua filha o único meio possível para conquistar o coração de Alcyone, que foi o de obter dele a promessa de que a acompanharia às criptas em que se celebravam os ritos mágicos trazidos de seus antros pelos moradores do mundo inferior, para adquirir mediante estes ritos o proibido conhecimento de mudar a figura humana em animal, e dar com isso rédeas soltas às brutais paixões da luxúria e crueldade ocultas no homem.

    Movida por sua própria paixão, Cisne influiu habilmente no coração de Alcyone, até converter-lhe em paixão a indiferença; não em fogo permanente, mas que realmente ardia enquanto durava. Então sua paixão se inflamou, e acabou por abalá-lo o poder sedutor dela. Pois mal havia ela se despedido dele, após arrancar-lhe a promessa de se encontrar com ela logo depois do sol posto, nas imediações da cripta onde se celebravam tais mistérios, sentia-se ele em luta entre as ânsias de segui-la e sua repugnância pelas previstas cenas em que o esperariam para tomar parte. O sol mergulhou no horizonte e a noite envolveu o céu em seu manto, enquanto Alcyone ainda permanecia pensativo; mas bruscamente se pôs de pé, agora com mente decidida, e dirigiu seus passos para o rendez-vous.

    Com surpresa sua, estava reuniu-se naquele lugar um número considerável de pessoas. Ali se achava seu pai com sacerdotes amigos, e adornada com uma meia lua sobre a cabeça, símbolo de uma noiva, viu Cisne rodeada dum grupo de donzelas vestidas em traje de tecido coalhado de estrelas, o qual o deixava entrever confusamente suas morenas faces. Também o aguardava um grupo de jovens de sua idade, entre os quais reconheceu seus mais íntimos amigos que, vestidos de malhadas peles de animais e levando consigo pequenos címbalo, se entrechocavam como faunos dançando ao redor de Alcyone.

    Ao vê-lo, exclamaram: “Salve! Alcyone, favorito do Sol Tenebroso, filho da Noite. Vede onde te aguardam tua Lua e suas Estrelas; mas antes deves conquistá-la de nós, seus defensores”.

    Subitamente foi ela lançada no meio dos dançarinos, e desapareceu na escuridão da cripta escancarada em frente, e simultaneamente alguns agarraram Alcyone, o despojaram de suas vestes e lhe puseram uma pele semelhante à que vestiam. Transtornado e fora de si, lançou-se então Alcyone à busca de Cisne, enquanto aquele tropel exclamava entre bravatas e risos:

    “Eia, jovem caçador; sê célere, antes que os sabujos abatam tua amada.”

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