Evangelho de Maria Madalena

5
10978

São numerosos os Evangelhos recenseados pelos historiadores das origens do cristianismo; os de Mateus, Marcos, Lucas e João são os mais conhecidos e em algumas Igrejas, permanecem como os únicos “autorizados” para nos transmitirem os ecos e as interpretações dos acontecimentos e dos ensinamentos que tiveram lugar na Galileia e na Judeia há cerca de 20 séculos.

As descobertas recentes – em 1945 – da Biblioteca de Nag Hammadi no Alto Egito permitem-nos, hoje, alargar nosso ponto de vista e enriquecer nosso conhecimento sobre alguns aspectos até então “ocultados” ou profanados do cristianismo.

Os Evangelhos que esta biblioteca contêm, escritos em língua copta saídica – “copta” vêm do árabe qibt, contração do grego Aiguptos, ou seja, Egito -, são atribuídos em sua maioria a discípulos que conheceram Yeshua (ou Yehoshua), o rabi galileu, atestado por uns como sendo o Messias anunciado pelas Escrituras hebraicas, por outros como um profeta ou como um Mestre. E como Salvador universal.

Assim, ao lado dos Evangelhos de Mateus, Marcos, Lucas e João, pode-se meditar atualmente naqueles de Filipe, de Pedro, de Bartolomeu e, mais particularmente, naquele de Tomé, evangelista da Índia (seu túmulo estaria em Madras).

Foi estabelecido que algumas logias ou “palavras nuas” deste Evangelho – e de outros mais tardios – seriam anteriores à redação dos escritos “canônicos” e teriam sido habilmente utilizados pelos redatores destes últimos.

Ao lado desses Evangelhos, que são agora mais bem conhecidos, há um que não parece ter retido suficientemente a atenção dos especialistas e que ficou praticamente ignorado do grande público.

Maria de Magdala, o Graal de Jesus

Trata-se do Evangelho de Maria, atribuído a Mariam de Magdala, primeira testemunha da Ressurreição, e, por causa disso, considerada pelo apóstolo João como sendo, bem antes de Paulo e de sua visão a caminho de Damasco, como A fundadora do cristianismo.

Yehoshua de Nazaré não é, certamente, segundo os textos atribuídos aos apóstolos, o fundador de nenhum “ismo”, nem de nenhuma instituição, mas o “Anunciador”, o “Testemunho”; alguns chegarão mesmo a dizer “a Encarnação” do Reino possível do Espírito no coração deste espaço-tempo, a manifestação do Infinito no coração mesmo de nossas finitudes, o dizer do Outro nos dizeres do Sendo…

O Evangelho de Maria é o primeiro tratado do papiro de Berlim. Esse papiro foi adquirido no Cairo por C. Reinhardt e conservado, desde 1896, no Departamento de Egiptologia dos Museus Nacionais de Berlim.

Ele seria proveniente de Achmin ou de suas cercanias, desde que apareceu inicialmente em um antiquário dessa cidade. De acordo com C. Schmidt, teria sido recopiado no início do século 5º. A descrição papirológica do manuscrito foi feita por W.C. Till, em continuação aos trabalhos de C. Schmidt, em seguida tornado adequado e completado por H.M. Schenke…

O Evangelho de Maria Madalena

O Salvador disse: “Todas as espécies, todas as formações, todas as criaturas estão unidas, elas dependem umas das outras, e se separarão novamente em sua própria origem. Pois a essência da matéria somente se separará de novo em sua própria essência. Quem tem ouvidos para ouvir que ouça”.

Pedro lhe disse: “Já que nos explicaste tudo, dize-nos isto também: o que é o pecado do mundo?” Jesus disse: “Não há pecado; sois vós que os criais, quando fazeis coisas da mesma espécie que o adultério, que é chamado ‘pecado’. Por isso Deus Pai veio para o meio de vós, para a essência de cada espécie, para conduzi-la à sua origem”.

Em seguida, disse: “Por isso adoeceis e morreis […]. Aquele que compreende minhas palavras, que as coloque em prática. A matéria produziu uma paixão sem igual, que se originou de algo contrário à Natureza Divina. A partir daí, todo o corpo se desequilibra. Essa é a razão por que vos digo: ‘tende coragem, e se estiverdes desanimados, procurais força das diferentes manifestações da natureza’. Quem tem ouvidos para ouvir que ouça”.

Quando o Filho de Deus assim falou, saudou a todos dizendo: “A Paz esteja convosco. Recebei minha paz. Tomai cuidado para que ninguém vos afaste do caminho, dizendo: ‘Por aqui’ ou ‘por lá’… pois o Filho do Homem está dentro de vós. Segui-o. Quem o procurar o encontrará. Prossegui agora, então, e pregai o Evangelho do Reino. Não estabeleçais outras regras além das que vos mostrei, e não instituais como legislador, senão sereis cerceados por elas”. Após dizer tudo isso, partiu.

Mas eles estavam profundamente tristes. E falavam: “Como vamos pregar aos gentios o Evangelho ao Reino do Filho do Homem? Se eles não O pouparam, vão poupar a nós?” Maria Madalena levantou-se, cumprimentou a todos e disse a seus irmãos: “Não vos lamentais nem sofrais, nem hesiteis, pois Sua Graça estará inteiramente convosco e vos protegerá. Antes, louvemos Sua grandeza, pois Ele nos preparou e nos fez ‘Homens’”. Após Maria ter dito isso, eles entregaram seus corações a Deus e começaram a conversar sobre as palavras do Salvador.

Pedro disse a Maria: “Irmã, sabemos que o Salvador te amava mais do que qualquer outra mulher. Conta-nos as palavras do Salvador, as de que te lembras, aquelas que só tu sabes e nós nem ouvimos.”

Maria Madalena respondeu, dizendo: “Esclarecerei a vós o que está oculto”. E ela começou a falar estas palavras: “Eu tive uma visão do Senhor e contei a Ele: ‘Mestre, apareceste-me hoje numa visão’. Ele respondeu e me disse: ‘Bem-aventurada sejas, por não teres fraquejado ao me ver. Pois, onde está a mente há um tesouro’. Eu lhe disse: ‘Mestre, aquele que tem uma visão vê com a alma ou com o espírito?’ Jesus respondeu e disse: “Não vê nem com a alma nem com o espírito, mas com a Consciência, que está entre ambos – assim é que este tem a visão […]”.

E o desejo disse à alma: ‘Não te vi descer, mas agora te vejo subir. Por que falas mentira, já que pertences a mim?’ A alma respondeu e disse: ‘Eu te vi. Não me viste, nem me reconheceste. Usaste-me como acessório e não me reconheceste’. Depois de dizer isso, a alma foi embora, exultante de alegria. “De novo alcançou a terceira potência, chamada Ignorância. A potência inquiriu a alma, dizendo: ‘Onde vais? Estás aprisionada à maldade. Estás aprisionada, não julgueis!’

E a alma disse: ‘ Por que me julgaste, apesar de eu não te haver julgado? Eu estava aprisionada; no entanto, não aprisionei. Não fui reconhecida que o Todo se está desfazendo, tanto as coisas terrenas quanto as celestiais’. “Quando a alma venceu a terceira potência, subiu e viu a quarta potência, que assumiu sete formas. A primeira forma, trevas; a segunda, desejo; a terceira, ignorância; a quarta é a comoção da morte; a quinta é o reino da carne; a sexta é a vã sabedoria da carne; a sétima, a sabedoria irada. Essas são as sete potências da ira. Elas perguntaram à alma: ´De onde viestes, devoradoras de homens, ou aonde vais, conquistadora do espaço?’

A alma respondeu, dizendo: ‘O que me subjugava foi eliminado e o que me fazia voltar foi derrotado…, e meu desejo foi consumido e a ignorância morreu. Num mundo fui libertada de outro mundo; num tipo fui libertada de um tipo celestial e também dos grilhões do esquecimento, que são transitórios. Daqui em diante, alcançarei em silêncio o final do tempo propício, do reino eterno’.”

Depois de ter dito isso, Maria Madalena calou-se, pois até aqui o Salvador lhe tinha falado. Mas André respondeu e disse aos irmãos: “Dizei o que tendes para dizer sobre o que ela falou. Eu, de minha parte, não acredito que o Salvador tenha dito isso. Pois esses ensinamentos carregam ideias estranhas”. Pedro respondeu e falou sobre as mesmas coisas.

Ele os inquiriu sobre o Salvador: “Será que ele realmente conversou em particular com uma mulher e não abertamente conosco? Devemos mudar de opinião e ouvirmos ela? Ele a preferiu a nós?” Então Maria Madalena se lamentou e disse a Pedro: “Pedro, meu irmão, o que estás pensando? Achas que inventei tudo isso no mau coração ou que estou mentindo sobre o Salvador?” Levi respondeu a Pedro: “Pedro, sempre foste exaltado. Agora te vejo competindo com uma mulher como adversário.

Mas se o Salvador a fez merecedora, quem és tu para rejeitá-la? Certamente, o Salvador a conhece bem. Daí a ter amado mais do que a nós. É antes, o caso de nos envergonharmos e assumirmos o Homem Perfeito e nos separaremos, como Ele nos mandou, e pregarmos o Evangelho, não criando nenhuma regra ou lei, além das que o Salvador nos legou”.

Depois que Levi disse essas palavras, eles começaram a sair para anunciar e pregar.

Ali Onaissi – Jornalista, escritor e coordenador do Portal GnosisOnLine

5 COMENTÁRIOS

  1. Muito boa a sua página,mas eu queria seber onde eu posso
    obter todos os evangelhos apócrifos.Não tenho religião,mas
    acredito muito em Deus e em Jesus Cristo;não é que eu não
    creia em religióes,acredito que quaze todas elas se transforma-
    rão em um grande comércio.
    Obrigado.

  2. novos tempos de descobertas.verdades velhas trazendo novas verdades. a mulher ocupando seu lugar no tempo
    pena que a igreja feche os olhos e a mulher feche os
    olhos e se degrade

  3. Fantástico e Divino ao mesmo tempo inusitado.Evangelho de Maria, a Magdalena.Grande lição da grande e terrível Ira.Matar o Ego se faz necessário.Amar como maria amou…andar como maria andou….crer (fé)como maria creu…

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.