A estrela-demônio Algol

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É urgente repetir, às vezes, certas frases, quando se trata de compreender. Não é demais enfatizar aquilo que já dissemos no capítulo 15 (do livro O Mistério do Áureo Florescer). Quero referir-me ao álcool. Não há necessidade de discutir longamente sobre os efeitos do álcool.

Seu próprio nome árabe (igual ao da estrela Algol, que representa a Cabeça da Medusa, cortada por Perseu) quer dizer, simplesmente, o Demônio… E que seja, efetivamente, um demônio, ou maléfico espírito, quando se apossa do homem, é evidente e facilmente demonstrável por seus efeitos que vão desde a embriaguez ao delirium tremens e à loucura, consignando-se nos descendentes sob a forma de paralisia e outras taras hereditárias.

É inquestionável que, sendo um produto de desintegração que se origina, também, em nosso organismo, entre os que são eliminados pela pele, tem uma tendência vibratória desagregante, dissolvente e destruidora, secando nossos tecidos e destruindo as células nervosas, as que, gradualmente, se acham substituídas por cartilagens.

Algol A e Algol B, estrelas que formam um sistema binário na Constelação de Perseu

Resulta evidente e manifesto que o álcool tende a eliminar a capacidade de pensar independentemente (uma vez que estimula fatalmente a fantasia) e de julgar serenamente, assim como debilita, espantosamente, o sentido ético e a liberdade individual. Os ditadores de todos os tempos, os tiranos não ignoram que é mais fácil governar e escravizar um povo de beberrões que um povo de abstêmios. É igualmente sabido que, em estado de embriaguez, pode-se fazer aceitar a uma pessoa qualquer sugestão e cumprir atos contra seu decoro e sentido moral. É demasiado notória a influência do álcool sobre os crimes, para que haja necessidade de insistir nisso.

O álcool horrendo sobe do precipício e cai no abismo da perdição; é a substância maligna que caracteriza de forma íntima os Mundos Infernos, onde só se escutam berros, alaridos, silvos, relinchos, chiados, mugidos, grasnidos, miados, latidos, bufares, roncares e coaxares. O abominável Algol gira incessantemente, dentro do círculo vicioso do tempo. Insinua-se, por onde quer, sempre tentador; parece ter o dom da ubiquidade; tão logo sorri na taça de ouro e de prata, sob o teto dourado do faustoso palácio, como faz cantar o bardo melenudo da horrível taberna.

O maligno Algol é, às vezes, muito fino e diplomático; vede-o, aí, brilhando perigosamente, entre a taça resplandecente de fino bacará, que a mulher amada vos oferece! E diz o poeta que, quando, no macio e perfumado leito de caoba, a amada, ébria de vinho, desnudar-se pretendia, o anjo da guarda saia um momento… Todos vamos a um fim; todos temos nosso nome na ânfora fatal. Nunca bebas, eu te digo, licor maldito, porque, se o bebes, prontamente errarás o caminho. Vinhete bem forte de Sabina, em taças pequenas beberás hoje comigo, ainda que em ânfora grega fosse ele envasilhado, que o selei eu mesmo, exclama Satanás do fundo do abismo…

Em suas negras profundidades, cada demônio sua faina cumpre, apanhando vinhas até o sol vespertino; e, como a deus te chama, quando na alegre ceia chega a hora de beber o fermentado vinho. Numen novo em seus lares, brindam-te os lavradores, com votos e libações do mosto de suas vides e sorri Algol, Medusa pérfida, gozando com sua vítima.

Descobriu-se recentemente que há DUAS estrelas Algol, que giram uma ao redor da outra, dando-nos a impressão de que é uma estrela “que pisca” para nós. Na verdade, suas energias cósmicas chegam à Terra intermitentemente graças a esse fenômeno

Jejuns, mortificações, cilícios pede o anacoreta, ou penitente, na alba ridente e, depois, tudo conclui, libando entre a bebedeira e a orgia, quando o sol, já cansado, se apaga no poente… O que não desgasta o tempo? Já foram inferiores aos avós rudes nossos queridos pais; piores que eles somos nós; e, em melancólica decadência, entre o licor e a tragédia, nos segue uma viciosa descendência.

“Quão distinta a prole − de quão outra família! que tinge em sangue púnico os mares da Cicília, a que a Piros e Antíocos de um só lance prostrastes, e ao formidável Aníbal, porque até o fim lhe arrosta.” “Casta viril de rústicos soldados, ensinada a remover os torrões com sabélica enxada; gigantes obedientes a uma mãe severa, que a seu mandar carregavam, na hora derradeira.” “Do dia enormes troncos para o lar cortados, quando, soltos do jugo os bois fatigados, funde−se o sol nas sombras que a noite remansa e em amigo repouso a casa descansa.”

Hoje, tudo passou; esta pobre humanidade cheia de tantas amarguras se degenerou com o vício abominável do álcool. E quem são esses tontos que pretendem negociar com Satã? Escutai, amigos! Com o sinistro demônio Algol não é possível fazer concessões, arranjos, trapaças de nenhuma espécie. O álcool é muito traiçoeiro e, cedo ou tarde, nos dá a punhalada pelas costas. Muitas pessoas de Thelema (Vontade) bebem tão só uma ou outra taça diária; trapaça maravilhosa. Verdade? Arranjo? Favoritismo? Trapaça?

Gentes inexperientes da vida; certamente a elas, falando-lhes em linguagem socrática, poderíamos dizer-lhes que não só ignoram, senão, ademais, ignoram que ignoram. Os átomos do inimigo secreto, semelhantes a microscópicas frações de vidro, com o suceder do tempo e entre tanta melopeia, bebedeira ou embriaguez muito sutil e dissimulada, vão-se incrustando dentro das células vivas do organismo humano…

Os árabes sempre souberam das influências nefastas da estrela binária Algol sobre a psique da humanidade como um todo, daqui da Terra

Assim, bem sabem os divinos e humanos que o Demônio Algol se apodera do humano corpo, muito astuta e lentamente, até que, por fim, um dia qualquer, nos precipita no abismo da bebedeira e da loucura. Escutai-me muito bem, estudantes gnósticos!

À luz do Sol ou da Lua, de dia ou de noite, com o Demônio Algol tendes que ser radicais! Qualquer compostura, transação, diplomacia ou negociação com esse espírito maligno está condenada, cedo ou tarde, ao fracasso. Recordai, devotos da Senda Secreta, que o eixo fatal da roda dolorosa do Samsara é umedecido com álcool. Escrito está, com palavras de fogo, no livro de todos os mistérios, que com o álcool ressuscitam os demônios, os eus já mortos, essas abomináveis criaturas brutais e animalescas que personificam nossos erros psicológicos.

Como o licor está relacionado com o Vayú Tattwa (o elemento ar), bebendo-o, cairemos como a Pentalfa invertida, com a cabeça para baixo e as pernas para cima, no abismo da perdição e de lamentos espantosos (Veja-se no capítulo 13 do livro O Mistério do Áureo Florescer).

O poço do Abismo, do qual sobe fumo como de um grande forno, cheira a álcool. Essa mulher do Apocalipse de São João, vestida de púrpura escarlate e adornada de ouro, de pedras preciosas e de pérolas, e que tem na mão um cálice de ouro cheio de abominações e da imundice de sua fornicação, bebe álcool; essa é a grande rameira, cujo número é 666. Desditoso o guia religioso, o sacerdote, o místico ou o profeta que cometam o erro de embriagarem-se com o abominável álcool…

O Iniciado medieval Cornélio Agrippa mencionou as ondas nefastas de Algol e divulgou o símbolo dessa estrela em seus tratados de Cabala e Alquimia. Esse símbolo é uma chave (a CHAVE DO POÇO DO ABISMO)

Está bem trabalhar pela salvação das almas, ensinar a doutrina do Senhor; mas, em verdade vos digo que não é justo lançar ovos podres contra aqueles que vos seguem. Sacerdotes, anacoretas, místicos, missionários que com amor ensinais ao povo, por que o escandalizais? Ignorais, acaso, que escandalizar as pessoas equivale a faltar-lhes com o respeito, a lançar-lhes tomates e ovos podres? Quando ireis compreender tudo isso?

SAMAEL AUN WEOR – O MISTÉRIO DO ÁUREO FLORESCER

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