“As catedrais góticas são templos onde os símbolos cristãos convivem lado a lado com antigas tradições cabalísticas, alquímicas, psicológicas e astrológicas, enfim, as catedrais góticas são eminentemente Gnósticas!”
Segundo a versão mais difundida, o termo “gótico” deriva de godos, o povo germânico que habitava a Escandinávia. Porém, em sua obra O Mistério das Catedrais, Fulcanelli nos apresenta outra versão. A palavra “gótico” seria uma deformação fonética de Argoth (Art Goth ou Argô), uma linguagem restrita utilizada somente por Iniciados em Ocultismo. Embora para os céticos essa versão seja incoerente, é uma visão aceita por Iniciados, maçons, teosofistas, gnósticos etc., e também de um grande Alquimista.
Confira o trecho do livro que disserta sobre essa possibilidade:
O Mistério das Catedrais – Cap. III
Alguns pretenderam erradamente que provinha dos godos, antigo povo da Germânia, e outros julgaram que se chamava assim a essa forma de arte, cujas originalidade e extrema singularidade provocam escândalo nos séculos 17 e 18, por zombaria, atribuindo-lhe o sentido de bárbaro: tal é a opinião da Escola Clássica, imbuída dos princípios decadentes do Renascimento.
A verdade, que sai da boca do povo, no entanto, manteve e conservou a expressão Arte Gótica, apesar dos esforços da Academia para substituí-la por Arte Ogival. Há ai uma razão obscura que deveria obrigar a refletir os nossos linguistas, sempre à espreita das etimologias. Qual a razão por que tão poucos lexicólogos acertaram? Simplesmente porque a explicação deve ser antes procurada na origem cabalística da palavra, mais do que na sua raiz literal.
Alguns autores perspicazes e menos superficiais, espantados pela semelhança que existe entre gótico e goético pensaram que devia haver uma estreita relação entre a arte gótica e a arte goética ou mágica.
Para nós, arte gótica é apenas uma deformação ortográfica da palavra argótica, cuja homofonia é perfeita, de acordo com a lei fonética que rege, em todas as línguas, sem ter em conta a ortografia, a cabala tradicional. A catedral é uma obra de art goth ou de argot. Ora, os dicionários definem o argot como sendo uma linguagem particular a todos os indivíduos que têm interesse em comunicar os seus pensamentos sem serem compreendidos pelos que o rodeiam.
É, pois, uma cabala falada. Os argotiers, os que utilizam essa linguagem, são descendentes herméticos dos argo-nautas, que viajavam no navio Argo, falavam a língua argótica – a nossa língua verde –, navegando em direção às margens afortunadas de Colcos para conquistarem o famoso Tosão de Ouro.
Ainda hoje se diz de um homem inteligente mas também muito astuto: “Ele sabe tudo, entende o Argot”. Todos os Iniciados se exprimiam em Argot, tanto os vagabundos da Corte dos Milagres – com o poeta Villon à cabeça – quanto os Frimasons ou franco-maçons da Idade Média, hospedeiros do bom Deus, que edificaram as obras-primas góticas que hoje admiramos. Eles próprios, esses Nautas Construtores, conheciam a rota do Jardim da Hespérides…
Ainda nos nossos dias os humildes, os miseráveis, os desprezados, os insubmissos, ávidos de liberdade e de independência, os proscritos, os errantes e os nômades falam argot, esse dialeto maldito, banido da alta sociedade, dos nobres que o são tão pouco, dos burgueses satisfeitos e bem pensantes, espojados no arminho da sua ignorância e da sua presunção.
O argot permanece a linguagem de uma minoria de indivíduos vivendo à margem das leis estabelecidas, das convenções, dos hábitos, do protocolo, aos quais se aplica o epíteto de vadios, ou seja, de videntes e, mais expressivo ainda, de Filhos ou Descendentes do Sol. A arte gótica é, com efeito, a art got ou cot, a arte da Luz ou do Espírito.
Pensar-se-á que são apenas simples jogos de palavras. E nós concordamos de boa vontade. O essencial é que guiem a nossa fé para uma certeza, para a verdade positiva e científica, chave do mistério religioso, e que não a mantenham errante no labirinto caprichoso da imaginação. Aqui embaixo não existe acaso, nem coincidência nem relação fortuita; tudo está previsto, ordenado, regulado e não nos pertence modificar a nosso bel-prazer a vontade imperscrutável do Destino.
Se o sentido usual das palavras não nos permite qualquer descoberta capaz de nos elevar, de nos instruir, de nos aproximar do Criador, o vocabulário torna-se inútil. O verbo, que assegura ao homem a incontestável superioridade, a soberania que ele possui sobre tudo que vive, perde a sua nobreza, a sua grandeza, a sua beleza e não é mais do que uma aflitiva vaidade. Ora, a língua, instrumento do espírito, vive por ela própria, embora não seja mais que o reflexo da Ideia Universal.
Nada inventamos, nada criamos. Tudo existe em tudo. O nosso Microcosmo é apenas uma partícula ínfima, animada, pensante, mais ou menos imperfeita, do Macrocosmo. O que nós julgamos descobrir apenas pelo esforço da nossa inteligência existe já em qualquer parte. É a fé que nos faz pressentir o que existe; é a revelação que nos dá a prova absoluta. Muitas vezes passamos ao lado do fenômeno, até mesmo do milagre, sem dar por ele, cegos e surdos.
Quantas maravilhas, quantas coisas insuspeitadas descobriríamos se soubéssemos dissecar as palavras, quebrar-lhes a casca e libertar a o espírito, divina luz que eles encerram!
Jesus exprimia-se apenas por parábolas; poderemos nos negar a verdade que elas ensinam? E, na conversação corrente, não serão os equívocos, os pouco mais ou menos, os trocadilhos ou assonâncias que caracterizam as pessoas de espírito, felizes por escaparem à tirania da letra e mostrando-se, à sua maneira, cabalistas sem o saberem?
Acrescentemos, por fim, que o argot é uma das forças derivadas da Língua dos Pássaros, mãe e decana de todas as outras, a língua dos filósofos e dos diplomatas. É o conhecimento dela que Jesus revela aos seus apóstolos, enviando-lhes o seu espírito, o Espírito Santo.
É ela que ensina o mistério das coisas e desvenda as verdades mais recônditas. Os antigos incas chamavam-na Língua da Corte porque era familiar aos diplomatas, a quem fornecia a chave de uma dupla ciência: a ciência sagrada e a ciência profana.
Na Idade Média, qualificavam-na antes da edificação da torre de Babel, causa da perversão e, para a maioria, do esquecimento total desse idioma sagrado. Hoje, fora do argot, encontramos as suas características nalgumas línguas locais como o picardo, o provençal etc. e no dialeto dos ciganos.
A mitologia pretende que o célebre adivinho Tirésias tenha possuído perfeito conhecimento da Língua dos Pássaros, que Minerva lhe teria ensinado, como Deusa da Sabedoria. Ele partilhava-a, diz-se, com Tales de Mileto, Melampus e Apolônio de Tiana, personagens fictícios cujos nomes falam eloquentemente na ciência que nos ocupa e bastante claramente para que tenhamos necessidade de os analisar nestas páginas.
Fulcanelli – O Mistério das Catedrais (saiba mais sobre este livro, clique aqui)
A Verdadeira Beleza
(Santo Agostinho)
Interroga a beleza da terra,
interroga a beleza do mar,
interroga a beleza do ar difundida e diluída.
Interroga a beleza do céu,
interroga a ordem das estrelas,
interroga o sol, que com o seu esplendor ilumina o dia;
interroga a lua, que com o seu clarão modera as trevas da noite.
Interroga os animais que se movem na água, que caminham na terra, que voam pelos ares:
almas que se escondem, corpos que se mostram;
visível que se faz guiar, invisível que guia.
Interroga-os!
Todos te responderão:
‘Olha-nos, somos belos!
A sua beleza fá-los conhecer.
Quem foi que criou esta beleza mutável, a não ser a Beleza Imutável?’
é muito interessante.quanto mais estudo a gnose comprovo que ela é a sintese,a alma de todas as religiões e tudo que existe sai dela(gnose)