A simbologia esotérica de Pinóquio e de Alice no País das Maravilhas

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As Aventuras de Pinóquio e Alice no País das Maravilhas são duas histórias para crianças carregadas de mensagens transpessoais, psicológicas e esotéricas, dois relatos de desenvolvimento pessoal, em que Pinóquio e Alice se vão desprendendo dos seus defeitos, limitações, ignorância e adormecimento, e tornar-se verdadeiros seres humanos com ajuda de duas personagens, respectivamente, o Grilo Falante e o Coelho, como acontece com a dupla Tamino-Pamina de A Flauta Mágica.

Há pouco tempo, Cecilia Gatto Trocchi, antropóloga da Universidade de Perúgia, explicava que Pinóquio era nada menos que um texto maçônico carregado de esoterismo, cujas peripécias seriam perífrases de livros esotéricos, como o Livro dos Mortos e O Conto da Serpente Verde, do também maçom Goethe.

Realmente, Pinóquio, e também Alice no País das Maravilhas, é um texto maçônico e iniciático.

A razão é porque, não só ambas as histórias estão repletas de simbologia maçônica, como foram escritas por dois conhecidos maçons, o italiano Carlo Collodi e o inglês Lewis Carroll, respectivamente, no século 19, tal como a partitura da Flauta Mágica o tinha sido, pelo maçom Mozart, no século 18, sobre o texto de uma fábula maçônica.

De fato, na história de Pinóquio, Gepeto é um velho mestre que usa avental (mestre maçom) e, sonhando ter uma criança, faz um boneco de madeira (segundo os astecas, os Deuses criaram o ser humano de madeira, que tem um paralelismo com o “trabalhar a Pedra”), desenhando-o com um compasso (objeto maçônico). Ao ver a estrela azul (estrela flamígera, a mesma estrela que guiou os Reis Magos), implora a realização desse desejo, o qual lhe é concedido: enquanto dormia, a Fada Azul (Mãe Divina) deu vida ao boneco, advertindo-o para que se comportasse como um menino de verdade (Homem autêntico, autorrealizado). E para aconselhá-lo, presenteia-o com o Grilo Falante (a Consciência).

Mas Pinóquio tem um Ego hipertrofiado, produto de distintos vícios que foi acumulando. As mentiras fazem-lhe crescer o nariz e as orelhas de burro depois, num paralelismo muito semelhante à história do Príncipe com Orelhas de Burro, que a tradição maçônica costuma utilizar para exemplificar nossa vida kármica, fútil e inconsciente.

Pinóquio paga as consequências dos seus atos quando é engolido por uma baleia, à semelhança do Jonas bíblico, num paralelismo também à Câmara de Reflexão maçônica e gnóstica, das iniciações e ao Ritual no 3º grau na morte de Hiram Abiff, existentes na Maçonaria.

No ventre da baleia, Pinóquio decide mudar, deixando para trás a vida inconsciente, e, sendo expelido pela Baleia, afoga-se, também num paralelismo com a Morte Mística do  iniciado, que, na Câmara de Reflexão, morre para a vida profana, renascendo para a vida iniciática, e do mestre que, no Ritual de 3º grau, se desprende de sua carne e ossos, para ressuscitar espiritualmente.

E da mesma forma que o iniciado e mestre, Pinóquio acorda do afogamento, renascendo sob uma forma humana mais elevada, tonando-se um Homem de verdade.

E Pinóquio é Homem de verdade, também segundo a interpretação psicológica da história, quando, transformando-se num menino de carne e osso, vence o gato e a raposa (as manifestações egoicas nos Centros Instintivo-Motor e Emocional).

No antigo tratado japonês Yagyun sobre a espada e a filosofia zen, explica numa frase: “Transforma-te num boneco de madeira: o boneco não tem Ego, nada pensa, e deixa que o corpo e os membros trabalhem por si mesmos de acordo com a disciplina que experimentaram. É este o caminho para a Vitória”.

Na história de Alice no País das Maravilhas, que, inicialmente, de forma reveladora do seu caráter simbólico, o seu autor intitulou Alice Debaixo da Terra, numa alusão à descida ao interior de si próprio do aprendiz maçom, o paralelismo com as Aventuras de Pinóquio é notório:

A estrutura da história segue do princípio ao fim o esquema de uma a sessão iniciática de um templo gnóstico-maçom, a que são adicionados alguns elementos de fantasia e personagens. Alice estava aborrecida, cansada de ficar sentada num banco com a irmã, sem nada para fazer. Estava de olho no livro que a irmã lia, mas logo se desinteressou, já que ele não possuía imagens ou diálogos. A menina estava convencida de que um livro sem imagens e sem diálogos não valia a pena (futilidade, inconsciência, vida profana).

No meio dessa monotonia, levanta-se para colher margaridas para um colar, sendo surpreendida por um velho coelho de luvas brancas (mestre maçom de luvas brancas que introduz o Iniciado), sempre preocupado com o atraso para a reunião (no templo ou na loja). Curiosa, Alice segue o coelho, entrando numa toca (Câmara da Reflexão, caixão do Mestre Hiram), onde vê uma porta, mas não consegue entrar antes de passar por sucessivas transformações e provas (como as provas maçônicas e gnósticas dos 4 Elementos) e só depois tem acesso, através da porta, que finalmente se abre, ao jardim onde três jardineiros (os três oficiantes da loja: Sacerdote, 1º e 2º Vigilantes) pintavam rosas brancas de vermelho (a transformação que se opera em cada um ao transpor a porta do templo) e chamavam-se uns aos outros como se tivessem números (nomes simbólicos dos maçons), o cortejo da rainha (o cortejo de entrada), o jogo de críquete entre todos (a Cadeia de União ou de Irradiação de Amor), a ordem de cortar as cabeças (o gesto do estar “à ordem” em Maçonaria, e a recordação da Morte-em-Marcha gnóstica), as deliberações e votações (também na forma maçônica), todos elementos da iconografia e simbologia maçônicas, provas essas que a levaram ao conhecimento de si mesma. Isso tudo sem falar do famoso chá, feito de determinada “planta de poder”, usada para amplificar a Consciência (aumentar ou diminuir de tamanho), usada por Iniciados para experienciar os Mundos Internos…

Cada experiência pela qual Alice passa, com as sucessivas transformações em que cresce e diminui, explica-lhe que vivemos cercados de estímulos aos quais se reage conforme o Nível de Ser que se tem. “O País das Maravilhas existe.” O trabalho de autoaperfeiçoamento na subida gradual na Escada de Jacó, que é o símbolo do crescimento gradual na Sabedoria, é possível.

Como diz a última frase da história: Alice aprendeu “que para voltar ao País das Maravilhas basta conservar o coração puro e os olhos tão transparentes como o céu de verão”.

Uma conclusão que se pode reverter na máxima maçônica: o maçom, para estar em comunhão com a ordem, basta ter o coração puro e os olhos transparentes como o céu estrelado da sua loja.

O Grilo Falante de Pinóquio e o Coelho de Alice representam a nossa Alma Divina, a Consciência, também nosso “Remorso”, adormecida e presa pelo Ego e pela Mente, pelos desejos inferiores egoicos que temos, como Pinóquio e Alice, que ouvir e seguir na formação do coração e esclarecimento do espírito.

Ambas as histórias relatam simbolicamente o caminho longo e cansativo de um iniciado maçom. O Trabalho pelo qual a Pedra Bruta se transforma numa pedra trabalhada e viva…

Demonstram os passos do Caminho, as suas Provas, nas quais se prepara o espírito para se tornar digno de entrar no Templo (Interior), naquele templo verdadeiro, que é feito sem ruído de pedra ou de martelo, em que a luz do Conhecimento (Gnose) permanece eternamente.

A entrada de Pinóquio no ventre da Baleia e a descida de Alice à toca do Coelho é o regressus ad uterum de todos os ritos iniciáticos que implicam transformação simbólica em embrião e uma pré-morte, seguida do regresso à Grande Mãe da etiologia, onde o iniciado nasce pela segunda vez.

Essa penetração na Grande Mãe é muitas vezes perigosa: no Pinóquio, a entrada no ventre da Baleia, além da já referida semelhança bíblica, encontra-se muitas vezes noutros mitos e sagas do antigo Oriente  e do mundo mediterrânico de raiz iniciática, tendo paralelismo com o mito polinésio de Mauí, o grande herói maori que, regressando à pátria, para a casa da avó, encontrando-a adormecida, se despe e penetra no corpo de uma gigante, a Grande Dama da Noite, Huie-muite-po, atravessando-a, mas, ao sair, ela acorda de sobressalto, apertando-o entre os dentes e cortando-o ao meio.

Em Alice, a descida à toca tem paralelismo com os ritos iniciáticos relativos às grutas e fendas das montanhas, símbolos da matriz Terra-Mãe em muitas culturas. Por exemplo, o termo chinês “tang”, designando gruta, também significa “misterioso, profundo, transcendental”, todos arcanos revelados nas iniciações.

Essas duas representações do Além, em Pinóquio sob a forma de ventre da Baleia, e em Alice sob a forma de toca, ilustra que o outro mundo é um local de acesso extremamente difícil.

A porta em forma de mandíbula, no caso de Pinóquio, e a simples porta impossível de transpor, no caso de Alice, significam a dificuldade da passagem e refletem a necessidade da mudança do modo de ser para poder atingir o mundo do espírito.

Em suma: independentemente da interpretação psicológica que muitos autores fazem das histórias de Pinóquio e Alice, elas têm na sua gênese uma conotação iniciática e esotérica, porque os seus criadores eram maçons, a simbologia e estrutura de ambas é maçônica e descrevem a viagem atribulada e solitária da cada ser humano, pobre, nu e cego, na procura constante da Sabedoria e da Espiritualidade, que vem já das mitologias e dos ritos de iniciação antigos e que várias culturas, religiões e a própria Gnose e Maçonaria adotaram para explicar simbolicamente a transformação espiritual de cada indivíduo para comungar com a Divindade.

https://www.youtube.com/watch?v=b1oC3yCdikY

20 COMENTÁRIOS

    • Afonso, se você voltar a ser criança certamente estará com a consciência desperta. A diferença é que a inocência e sabedoria estarão juntas.

  1. UAU!… Maravilhosa explicação! Parabéns! Muito obrigada por vosso admirável trabalho e empenho! Eu sabia que os autores desses contos deviam ser pessoas interessantes!… Conforme fui estudando a Gnose, percebi um certo parelelo (mas só agora, com a leitura desse ótimo texto, pude perceber a dimensão do esoterismo dessas histórias) entre essas fábulas e o Autoconhecimento… No caso da Alice, depois que assisti ao filme (infelizmente, não li os livros dela e do Pinóquio): insegura, ela vai se tornando aos poucos Alice. “Quem é você?”, pergunta sempre a lagarta azul (percebo agora: a mesma cor da Fada do Pinóquio), que no decorrer do filme vai se transformando em borboleta, enquanto Alice também muda. No fim, ela acaba fazendo algo que não esperava, a princípio, que pudesse: mata o terrível monstro, a semelhança de São Jorge ou de Arcanjo Miguel com o dragão… Decaptando-o…

    Bem, se me pareço com a Alice do começo do filme agora, espero conseguir vir a parecer com a do final, um dia… rsrsrsrs…

  2. Não sabia que os autores eram maçônicos, sempre gostei muito de ambas estórias.
    A universalidade destas obras sempre (fascinou=despertou) a todos, profundamente. Hoje, um pouco menos, pois creio que estamos mais alienados a outros valores: temos muita coisa material a nos entreter e deixamos de estimular o nosso lado Imaginário e consciente; e uma pena.
    Por outro lado, quem procura encontra muito ensinamento disponível em todos os canais informativos.
    Obrigado! pelo esclarecimento sobre as duas estórias: Pinóquio e Alice.
    Edson.

  3. Tenho uma admiração enorme por Lewis Carrol, por conta da sua obra espetacular! Li muito ao seu respeito, e tudo indica uma possível pedofilia ou tendência da mesma, talvez não consumada porém as minhas conclusões me levam a crer que ele tenha sido um infrasexual… E este é um raro artigo que leio que não o aponta ou insinua a pedofilia até mesmo em sua obra.

    • Não posso precisar de onde veio a minha informação sobre Carrol, mas obra foi revisada por mais de uma vez e os originais encontam-se a sete chaves. Comentava-se na pequena aldeia que a menina (Alice) que vivia com ele não podia brincar com outras meninas que questionavam os pais sobre aquele aprisionamento. Não discordo da análise das duas obras, perfeito.

  4. Muitos outros contos foram escritos branca de neve e os 7 anões a historia do super homen pena que foram usadas aos propositos da loja negra e não para o despertar das crianças mas sim para elas dormir.

  5. Qual o simbolismo do regresso ao utero da deusa mãe? Ja vi se repetir muito nas historias antigas principalmente as celticas.
    Li e não entendi essa parte, pode explicar?

    • Ramona, os europeus de tradição céltica falam em voltar ao útero da Grande Mãe, os astecas usam a ideia de ser tragado pela serpente…
      É importante que você se aprofunde nos textos tântricos que explicam completamente tais conceitos.
      Temos os livros gnósticos O Matrimônio Perfeito e O Mistério do Áureo Florescer (de Samael Aun Weor), grautuitamente em nossa Área Reservada, além dos textos em nosso link intitulado Tantrismo.
      Pesquise sobre as técnicas da morte do ego e do despertar da Kundalini…

  6. E o cara que foi o primeiro a apresentar o super homem e a mulher maravilha era gnostico tambem? pois esses são os mais antigos herois , o super homem, e a amazona mulher maravilha parecem ser um jeito de modtrar ao mundo oque os iniciados são capazes de fazer, graças à serpente e o tantrismo…

  7. Pinóquio e Alice. Sobre a simboligia sempre pensei que havia informação espiritual nas histórias ditas infantis. Com este texto maravilhoso pude cofirmar meus pensamentos. Como diz o V.M., quem quiser pode investigar por si mesmo. É só sair em astral consciente. Até mais, que todos sejam ditosos!

  8. Sobre o Pinocchio, eu fiquei curioso e procurei a história original e a encontrei na Wikipédia. Eu não sou Maçom mas conheço alguns e e um pouco sobre a ordem e acho que a história não tem muito a ver, ou pode ser que nada, principalmente porque a história que vemos na Disney é totalmente diferente da original, na original vemos muitos avisos de que crianças devem obedecer os pais e serem obedientes, caso contrário podem entrar em apuros e essa era a ideia da época em se fazer contos infantis.

    A história que a antropóloga se baseia é a da Disney, podemos ver isso quando ela cita a fada o começo da tese, quando na realidade a fada na história real só aparece bem depois, Pinocchio era uma madeira falante e depois que é esculpido vira um boneco com vida, existem essas e outras diferenças o conto original e a tese.

    A história tem sim seu fundo Gnóstico e Esotérico, porém não é exato considerar 100% relacionado a Maçonaria.

    Walt Disney também era maçom e a partir dai a história da dele pode ter uma leve ligação com a Maçonaria, e os processos iniciáticos e a evolução interna, o grilo lá é literalmente visto como consciência.

  9. Enquanto ele não se compara a nada versão de Alice no País das Maravilhas de Lewis Carroll com Tim Burton, é importante reconhecer que a nova versão está relacionada com o sentido real da história do livro, falar sobre o tempo eo que é relevante para qualquer ser vivo no planeta, além de temas como a captura de amizade e confiança que temos em nós mesmos, em suma eu gostei de sua análise é perfeitamente compreensível e interessante!

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