Relatos de crianças em idade escolar morrendo de infecções causadas por bactérias resistentes a medicamentos são suficientes para lançar pais em um frenesi de limpeza antimicrobiana.
Mas antes de você começar a travar sua própria guerra pessoal contra organismos unicelulares, é melhor que você saiba: muitos produtos de limpeza pessoal e do lar contêm ingredientes que podem tornar o problema da resistência ainda pior.
Atualmente, centenas de sabonetes, cremes de mão, produtos de limpeza de cozinha e até mesmo pastas de dente e anti-sépticos bucais incluem agentes antibacterianos. Um dos mais populares é o triclosan, que é usado não apenas em produtos de limpeza, mas também em brinquedos, tábuas de corte, mouse pads, papéis de parede e até mesmo em tigelas para ração de animais.
A tentação de cobrir nossas famílias com proteção antibacteriana é alimentada por reportagens assustadoras sobre a bactéria mortal CA-MRSA, que significa Staphylococcus aureus resistente à meticilina adquirido na comunidade. Duas crianças com saúde -um aluno da sétima série do Brooklyn e um jogador de futebol colegial na Virgínia- morreram nas últimas semanas de infecção por MRSA.
O conselho geral para evitar infecção é higiene básica -lavar as mãos ou usar produtos de limpeza à base de álcool, manter machucados cobertos até cicatrizarem e evitar compartilhar itens pessoais como toalhas e cosméticos.
Mas alguns recentes estudos em laboratório sugerem que produtos bactericidas contendo triclosan podem não ser a melhor forma de permanecer limpo. Em vez de eliminar bactérias aleatoriamente, da forma como o sabão comum ou produtos à base de álcool fazem, o triclosan pode inibir o crescimento de bactérias de uma forma que deixa uma grande proporção de bactérias resistentes para trás, segundo estudos em laboratório da Universidade Tufts e da Universidade Estadual do Colorado, entre outras.
Para ser exato, nenhuma destas pesquisas mostrou este efeito no mundo real. Na verdade, dois estudos aleatórios comparando pessoas que usaram sabonetes com triclosan com outras que usaram sabonetes comuns não encontrou evidência de que o triclosan contribuiu para uma maior resistência das bactérias. A indústria de sabonetes diz que estes resultados são muito mais relevantes do que os estudos controlados em laboratório.
Mas Allison E. Aiello, uma professora assistente de epidemiologia da Escola de Saúde Pública da Universidade de Michigan, disse que a evidência laboratorial contra o triclosan é forte o suficiente para que os produtos sejam questionados. O mais significativo, ela disse, é o fato de vários estudos mostrarem que os sabonetes antibacterianos vendidos aos consumidores não são melhores que os sabonetes comuns em termos de redução de doenças ou da contagem de bactérias que restam nas mãos.
“Dado que não parece haver um benefício, eu acho que isto merece uma melhor avaliação”, disse Aiello, cujo artigo sobre sabonetes antibacterianos foi publicado no ano passado na revista médica “Clinical Infectious Diseases”. “Nós deveríamos questionar o uso destes produtos.”
As empresas de sabonetes dizem que a preocupação com o triclosan afasta o foco do verdadeiro culpado: o uso abusivo de antibióticos e a necessidade de melhor higiene em geral. “A última coisa que precisamos é ver pessoas sendo desencorajadas do uso de produtos de higiene benéficos”, disse Brian Sansoni, um porta-voz da Associação de Sabões e Detergentes.
Em qualquer colônia de bactérias, uma parte delas freqüentemente terá uma resistência natural aos antibióticos. Os germes resistentes podem conter variantes genéticas que lhes dão paredes celulares mais fortes ou capacidade de expelir o antibiótico de volta. Elas sobrevivem ao ataque do antibiótico e com as bactérias suscetíveis fora do caminho, as linhagens naturalmente resistentes podem prosperar. Elas não apenas se multiplicam, mas algumas podem também compartilhar sua resistência com outras bactérias e obter novas características resistentes com o tempo.
A resistência natural ocorre em uma escala tão pequena que geralmente não é uma preocupação de saúde. Mas quando antibióticos são usados em excesso -seja por indivíduos ou quando produtores rurais os adicionam à ração animal- o efeito é amplificado. “Há este efeito exagerado, de bola de neve, de multiplicação de bactérias resistentes por toda parte”, disse Marlene Zuk, uma professora de biologia da Universidade da Califórnia, em Riverside, cujo livro “Riddled With Life” discute a proliferação dos produtos de limpeza e higiene pessoal antibacterianos.
A questão dos produtos de limpeza contendo triclosan é se o agente mata os germes aleatoriamente ou se promove as mesmas pressões de seleção que podem levar a uma resistência a antibióticos. A preocupação não é a possibilidade das bactérias se tornarem resistentes ao triclosan. O temor é de que as mesmas bactérias resistentes ao triclosan possam também se tornar resistentes a certos antibióticos. E um punhado de estudos laboratoriais sugere que o triclosan pode selecionar bactérias resistentes.
“Você tem aqui uma substância que é amplamente usada em ambientes hospitalares e lares”, disse Herbert P. Schweizer, diretor adjunto de pesquisa do departamento de microbiologia, imunologia e patologia da Estadual do Colorado, que conduziu alguns dos estudos em laboratório mostrando a resistência ao triclosan. “A exposição a este antimicrobiano amplamente usado causa o surgimento de resistência a várias drogas em linhagens de laboratório.”
Tais estudos do uso do triclosan que não mostraram um problema de resistência na comunidade não significam que ele não acontecerá, disse o dr. Stuart B. Levy, um professor de microbiologia da Tufts que é presidente da Aliança pelo Uso Prudente de Antibióticos.
“Eu sou o primeiro a dizer que ainda não vimos uma diferença no lar”, disse Levy. “Mas nós sabemos pelos dados de antibióticos que se acontece no laboratório, no final acontecerá fora do laboratório.”
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